19 de fev. de 2019

CÁRITAS BRASILEIRA

Cáritas Brasileira, apoia projetos de roças T.I. Apinajé

 No último dia 23 de dezembro de 2018 completou um ano que famílias Apinajé da região da aldeia São José, (Areia Branca) chegaram na aldeia Cocalinho, com objetivos de reocupar essa parte do território e reconstruir essa aldeia que havia sido desativada em 2007 após conflito ocorrido na (vizinha) aldeia de Buriti Comprido.

Desde então as famílias estão enfrentando importantes desafios. No primeiro momento fizeram limpezas do local e construíram casas. As famílias ainda estão lutando para implantar as primeiras roças para garantir a própria alimentação para os próximos anos. E com esse objetivo no início de 2018 articulados e unidos com lideranças da aldeia Patizal, conseguiram apoio e cooperação de alguns aliados e parceiros para implantação de duas roças nas aldeias Cocalinho e Patizal.

Nos primeiro semestre de 2018 algumas entidades e órgãos públicos apoiaram a iniciativa, garantido algum apoio para essas famílias que encontram se na Cocalinho. Uma parceria com o Conselho Indigenista Missionário – CIMI, organismo vinculado à CNBB, e o apoio das prefeituras de Cachoeirinha e São Bento do Tocantins, e Funai/Coordenação Local de Tocantinópolis; com recursos do ICMS-Ecológico tem sido importante para garantir a permanência dessas famílias na Cocalinho neste primeiro ano.

Mas, a partir do segundo semestre de 2018 em parceria e convênio com a Fundação Banco do Brasil, Cáritas Brasileira e Arquidiocese de Palmas, permitiu implantação de duas roças coletivas para garantir o sustento e segurança alimentar das famílias que se encontram na aldeia Cocalinho. As atividades tiveram início em junho de 2018, com a realização de mutirão para broca e derrubada da mata. A queima da roça ocorreu no final de setembro e logo após foram feitas preparação do terreno para plantio. Nas primeiras chuvas de outubro foram plantadas diversos produtos da agricultura tradicional Apinajé.
Com esses recursos do projeto financiado pela Fundação Banco do Brasil em convenio com a (e arquidiocese de Palmas) Caritas Brasileira, foram adquiridas ferramentas, sementes, alimentação e combustíveis. As atividades iniciadas em junho de 2018, serão encerradas em abril de 2019. Lembrando que a colheita da mandioca principal produto plantado nesse projeto, só ocorrerá um ano depois do plantio.

É importante destacar que essa primeira roça implantada na Cocalinho é fundamental para assegurar a vinda de mais famílias para reconstruir essa comunidade, e ainda para multiplicação e guarda das sementes; dando segurança e autonomia para próximo plantio de roças nesta aldeia.
Com esse projeto consolidado, os membros da comunidade estão motivados, afirmados e confiantes. A roça foi totalmente plantada com variedades de sementes (crioulas) de mandioca, fava, macaxeira, feijão, milho, arroz, inhame, quiabo e abóbora, trazidas das aldeias São José e Areia Branca. Ainda foram adquiridas sementes (manivas) dos camponeses (não-índios), e pequenos agricultores familiares vizinhos, da zona rural dos municípios de Cachoeirinha e São Bento do Tocantins.


É importante destacar a natureza e o caráter agroecológico desses projetos implantados nas aldeias Cocalinho e Patizal, que seguem conforme nossos usos e costumes. Ressaltamos que não utilizamos nenhum tipo de agrotóxico ou qualquer aditivo químico nas plantações, garantindo assim produtos plantados de forma adequada, que não agridem o meio ambiente e nem comprometem e prejudiquem a saúde e o Bem Viver de nosso povo.

O plano para os próximos anos é ampliar os roçados e diversificar os plantios, transformando as roças familiar em SAFs-Sistemas Agro Florestais, aonde serão plantadas também bananas, cupu, mangas, caju e outros. Pensando na preservação e conservação das árvores de bacuri, açaí, bacaba e buriti, espécies nativas existentes nessa região da Cocalinho; as roças serão implantadas em locais específicos e os produtos plantados consorciados com essas árvores.

As famílias das aldeias Cocalinho e Patizal, por meio de nossas organizações agradecemos a Fundação Banco do Brasil, a Caritas Brasileira (Arquidiocese de Palmas), e à Dom Giovane Pereira de Melo, Bispo Diocesano de Tocantinópolis pelo acompanhamento e empenho nesta parceria e cooperação que resultou na implantação desses dois projetos de roças fundamentais para o fortalecimento de nossa produção tradicional e garantia da alimentação para nossas comunidades.



Aldeia Cocalinho, T.I. Apinajé, 19 de fevereiro de 2019

Associação União das Aldeias Apinajé-Pempxà  

8 de fev. de 2019

DIALOGO INTERCULTURAL


Encontro de Dialogo dos Povos Indigenas da Panamazônia
Rede Eclesial Panamazônica – REPAM
Comunidade Monilla Amena, Letícia-Colômbia,  01-04 fevereiro 2019


Nós, representantes dos povos indigenas Kokama, Uitoto, Tikuna, Yanomami, Kambeba, Matsés, Mayoruna, Matis, Kanamary, Karipuna, Manoke, Kayapi, Munduruku, Apinajé, Shuar, Kichwa, Kaixana, Pemon, Warao, MojeñoTrinitario, MojeñoIgnaciano, Desano, Ingae Okaina, procedentes de Brasil, Venezuela, Colombia, Bolivia, Equador e Peru, junto com pessoas e entidades membros da Rede Eclesial Panamazonica-REPAM, reunidos na comunidade de Monilla Amena, na Terra Indigena Tikuna-Uitoto, em Letícia-Colômbia, no período de 01 a 04 de fevereiro de 2019, aonde dialogamos sobre a realidade que vivemos em nossos territórios, viemos denunciar:


- A falta de demarcação das terras e da garantia de nossos direitos territoriais. A não demarcação de nossos territórios causa violência e genocídio contra nossos povos. A falta de perspectivas, principalmente na juventude, e a ausência de politicas publicas específicas e diferenciadas obrigam a muitas pessoas a migrar para a cidade, passando a viver em situação de miséria, vulnerabilidade e falta de garantia de direitos fundamentais;
-   Nossos territórios, demarcados ou não, continuam sendo invadidos pelo projeto do agronegócio, a extração petroleira, as estradas, a mineração, as hidroelétricas, bem como madeireiros, garimpeiros, caçadores e pescadores ilegais e o tráfico de pessoas e de ilícitos;
-  Nosso direito à consulta prévia, livre e informada não está sendo respeitado;
-  Esta falta de garantia de nossos direitos territoriais e de politicas publicas especificas e diferenciadas leva a que nossos povos também sejam feridos por problemas como as drogas, alcoolismo ou prostituição.

Os Estados nacionais Panamazônicos são responsáveis por esta situação. Eles priorizam os interesses das grandes empresas e do capital, omitindo-se em suas obrigações de proteger a vida e os territórios de nossos povos. Exigimos aos Estados amazônicos que cumpram suas responsabilidades constitucionais, garantam os direitos reconhecidos na Convenção 169 da OIT e em outros instrumentos do direito internacional.
Diante de todo isto, nós povos indígenas e nossos aliados,


REAFIRMAMOS:
-       Nosso compromisso em continuar lutando pelos nossos direitos originários e garantidos constitucionalmente;
   -    a garantia da demarcação dos territórios, a educação e saúde de qualidade e a segurança e proteção de nossos povos; 
  -    Nosso compromisso com o fortalecimento cultural de nossos povos, a autonomia e a autodeterminação na governança de nossos territórios;
    -    Nossa luta pela segurança alimentar e nutricional, a guarda e a conservação de nossas sementes tradicionais;
    - O apoio aos processos de fortalecimento e participação da juventude indígena na tomada de decisões;
   -  A visibilidade à participação das mulheres indígenas na organização dos povos em defesa da vida, dos direitos e dos territórios;
   -  Valorizar o conhecimento tradicional repassado pelos anciões, pajés, parteiras, artesãos, caciques e outras lideranças tradicionais de nossos povos;
     -  A união entre os povos indígenas da Amazônia para a continuidade da vida e do Bem Viver;
  -  Fortalecer a articulação e o diálogo entre as comunidades, povos e organizações com os aliados da causa indígena; 
    -    A luta pela preservação da Mãe Terra é uma forma de honrar a memória de nossos antepassados, que viveram e pensaram nas futuras gerações.
-    Queremos agradecer ao Papa Francisco pelo reconhecimento da importância da Amazônia para os povos indígenas e para toda a humanidade.
-     Compreendemos que o Papa Francisco tem um olhar carinhoso com nossos povos amazônicos, nossas sabedorias e formas próprias de espiritualidade.

Comunidade Monilla Amena, 04 de fevereiro de 2019