19 de nov. de 2018

EDUCAÇÃO INDÍGENA


Professores, estudantes, pais, lideranças, anciãos, mulheres realizam a Oficina 'Saberes Indígenas na Escola' na aldeia São José


A Oficina 'Saberes Indígenas na Escola' foi realizada nos dias 16 e 17 de novembro de 2018 na Escola Estadual Indígena Mãtyk na aldeia São José, TI Apinajé no município de Tocantinópolis e teve importante participação de lideranças, professores e estudantes indígenas universitários vindos de outras aldeias Apinajé. Participaram ainda professores da UFT de Araguaína, Porto Nacional e Tocantinópolis, além de pesquisadores e acadêmicos indígena Panhĩ e não indígenas da UFT e UFG.

Oficina Sabres Indígenas na Escola. (foto: Odair Giraldin/UFT. Nov. 2018)

Na abertura, no período da manhã, foram entregues algumas fotos (preto e branco) em moldura do líder José Dias Mãtyk, que viveu na antiga aldeia Bacaba entre os anos de 1910 a 1950. Quando foi construída a Escola Estadual Indígena Mãtyk, a unidade escolar recebeu esse nome para homenagear esse importante líder do povo Apinajé. As fotos foram tiradas pelo Etnólogo alemão Curt Unkel (Nimuendajú) em 1935. Esse material, doado pela UFT, ficará guardado nesta Escola.

A Oficina 'Saberes Indígena na Escola' foi realizada com a finalidade de debater e discutir como os saberes indígenas estão sendo ensinados e transmitidos na escola. As lideranças destacaram que a memória, a história e as tradições estão com os mais idosos e anciãos Apinajé, que podem ter ainda mais participação do processo de ensino e aprendizagem.

O processo de ensino e aprendizado deve sair da caixinha da sala de aula, se libertar, sair para o pátio para assistir uma reunião, caminhar pelo cerrado, interagir com a água, com as caças e com as roças. Enfim a educação acontece em casa, no pátio, na roça e na escola dentre outros espaços.
 
Durante a Oficina 'Saberes Indígenas na Escola' foi realizado o lançamento do livro ‘Pinturas Corporais Apinajé’: Vol. 2, mais um dos trabalhos realizado pelo Professor Odair Giraldin da UFT em parceria com professores e professoras indígenas. O livro aborda e detalha, nas línguas Apinajé e portuguesa, o sentido das diferentes formas de pinturas corporais das crianças, mulheres e homens Apinajé.

Aconteceu ainda o lançamento do primeiro livro de um professor indígena “Mẽ pahte amnhĩ nhĩpêx kôt ahpumunh” (Alfabetização pelos Conhecimentos) do professor Júlio Kamêr Apinajé da Escola Estadual Indígena Tekator, da aldeia Mariazinha. O livro de alfabetização traz uma outra forma de aprendizagem e ensino, que acontece com o conhecimento que as crianças já possuem baseado nas leituras de imagens e ilustrações. Essa forma de transmitir o conhecimento visual, é um processo de ensino usando imagens ilustrativas e posteriormente entrar no processo de alfabetização indígena que acontece pela oralidade.

Atualmente os professores Panhĩ estão elaborando novas metodologia, uma delas é a leitura da pronuncia do alfabeto em Panhĩ Kapẽr ( língua indígena) e não mais a leitura em português “G” - gê – em língua portuguesa e “G” - gỳ - em Panhĩ Kapẽr , as letras são as mesmas mas a pronuncia são totalmente diferente. O objetivo desta nova forma de alfabetização é preservar os princípios linguístico Panhĩ Kapẽr conforme seu contexto sociocultural. A pronuncia do português não pode dominar a pronuncia do Panhĩ Kapẽr.

Participantes da Oficina  Saberes Indígenas na Escola na Escola Mãtyk. (foto: Odair Giraldin/UFT. Nov. 2018)

 Os eventos (Reuniões, Seminários, Oficinas) para debater o processo de ensino e aprendizagem devem acontecer de forma permanente e continuado. A participação dos professores, pais e alunos é fundamental nesse processo, pois assim a cada dia podemos aprimorar e melhorar mais a qualidade e o conteúdo do ensino nas aldeias.

O jovens indígenas ainda falaram de melhorias das tecnologias de comunicação e informação (internet) para facilitar o ensino e a pesquisa nas escolas. Os Estudantes e acadêmicos quando terminam o ensino médio e ingressam num curso superior, tem dificuldades de lidar com essas tecnologias na universidade pois não tiveram acesso na aldeia.

Infelizmente percebemos que essas tecnologias de acesso ao conhecimento e à informação ainda é uma “coisa de rico”. Não sabemos quais são as dificuldades que o estado do Tocantins enfrenta para melhorar a eficiência e a qualidade da internet da Escola Estadual Indígena Mãtyk, pois sabemos que existem escolas indígenas e ribeirinhas em localidades muito mais remotos e isolados da região Amazônica, que já dispõem de internet via satélite de ótima qualidade.

Os saberes e conhecimentos indígenas não podem ser excluídos e ignorados do processo de ensino e aprendizagem. Os professores não-indígenas podem compreender e interagir com a dinâmica cultural do povo Apinajé, para que a “escola diferenciada” não fique só no papel e seja diferenciada de fato. Mas, quem pode e deve fazer a diferença são os próprios professores e estudantes indígenas em parceria com a comunidade.

A Educação Escolar implementada nas escolas nas aldeias ainda insiste em colonizar e dominar as mentes dos cidadãos indígenas. O projeto ideológico e integracionista do estado brasileiro ainda está em curso. O pensamento de muitos não-índios, em relação às culturas indígenas, sempre foi de preconceito e desprezo. Na visão do não-indio, a cultura, a memória, a história, as tradições, as cantorias, o território são “coisas do passado” e deveriam ser esquecidas e deixadas de lado. Essa visão racista e preconceituosa muitas vezes ainda é reproduzida nas escolas indígenas. Ação como o 'Saberes Indígenas na Escola' podem ajudar evitar essa reprodução e diminuir o preconceito.

Associação União das Aldeias Apinajé-Pempxà

Aldeia São José, 18 de novembro de 2018

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