POVO APINAJÉ SOB PRESSÃO DE FAZENDEIROS: LIDERANÇAS DENUNCIAM A CONTINUIDADE DE DESMATAMENTOS NA FAZENDA GÓES, PRÓXIMO À ALDEIA SÃO JOSÉ
Desmatamento de área na Fazenda Góes, próximo à aldeia São José. (foto: arquivo PEMPXÀ. Dezembro de 2024) |
Na última
quinta-feira, 05/12/2024, verificamos que tratores estão desmatando áreas da
Fazenda Góes localizada às margens da rodovia BR 230 (antiga transamazônica)
nas proximidades da aldeia São José, em Tocantinópolis (TO). A retomada do
desmatamento na Fazenda Góes reabre essa frente de divergência e conflito
agrário nesta área contestada e reivindicada por nosso povo. Isso ocorre duas
semanas depois que denunciamos a continuidade do desmatamento de outras áreas
nas Fazendas Dona Maria e Gleba Matão localizadas também dentro dessa área
tradicional em Processo de demarcação pela FUNAI.
O
desmatamento na Fazenda Góes foi iniciado em setembro de 2013, e após
denúncias, manifestações e protestos da comunidade Apinajé, no ano de 2015 o
NATURATINS atendendo recomendações do MPF-AGA anulou a Licença que havia sido emitida em favor da proprietária. No período entre 2015 e 2023 houve gradativa
recuperação da área desmatada, entretanto em setembro de 2023 tratores voltaram
novamente desmatar o local. Mas as atividades foram paralisadas após denúncias
da comunidade indígena.
A citada
área desmatada da Fazenda Góes está localizada a apenas 500 metros da aldeia
São José, a principal e mais populosa comunidade Apinajé. O empreendimento
iniciado em 2013 já destruiu parte das cabeceiras e matas ciliares do
ribeirão Góes que nasce dentro da Fazenda e corre para terra indígena demarcada. As
aldeias São José, Baixa Funda, Cocal Grande e Prata utilizam as águas desse
ribeirão para banhar, lavar roupas e as vezes beber, serão impactadas
diretamente. A comunidade teme que o fazendeiro faça uso de agrotóxicos nas
plantações e as águas fiquem contaminadas. Devido o desmatamento dessas
nascentes as águas do ribeirão Góes já está secando.
Denunciamos que o fazendeiro continua os serviços numa área (sensível) de nascentes, na divisa da terra indígena, e nas proximidades de aldeias. Essa atividade ilegal acontece dentro de terras da União, e área de ocupação tradicional do povo Apinajé, reivindicada por essa comunidade indígena. A citada área já havia sido embargada em 2015, mas agora as atividades foram retomadas no local. Pedimos esclarecimentos ao Instituto Natureza do Tocantins-NATURATINS, sobre a emissão de Licenças ambientais nessas condições. No caso da FUNAI/BSB e o IBAMA esses órgãos alegam que não foram informados sobre o empreendimento e nem participaram do Processo de Licenciamento Ambiental.
Áreas de nascentes desmatadas na Fazenda Góes, na divisa da T.I. Apinajé. (foto: arquivo PEMPXÀ dezembro de 2024) |
O Art. 6º da
Convenção 169 da OIT estabelece que:
1. na
aplicação das disposições da presente Convenção, os governos deverão: ‘consultar
os povos interessados, por meio de procedimentos adequados e, em particular, de
suas instituições representativas, sempre que sejam previstas medidas
legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente. Entretanto
nossas lideranças e organizações não foram informados, ouvidos ou consultados
pelo empreendedor e nem pelo NATURATINS órgão do governo estadual que em 2013 conduziu
o Processo de Licenciamento por conta própria.
Alertamos
que nossas nascentes de águas podem ser envenenadas pelas tais
pesticidas/herbicidas, conhecidas como agrotóxicos, usados nas plantações de
soja, milho e eucaliptos. Até o momento temos dúvidas e não sabemos quais os
produtos serão plantados na área desmatada; pois não foram realizados Estudos
de Impactos Ambiental-EIA/RIMA e nenhum Documento ou Relatório foram emitidos
para prévia análise dos órgãos ambientais.
Também
pedimos que o Banco da Amazônia esclareça os critérios e regras dos seus financiamentos
e empréstimos destinados aos proprietários do município de Tocantinópolis e
região. A gerencia do BASA deve informar se as citadas propriedades rurais
limítrofes ao território Apinajé estão recebendo empréstimo dessa Instituição
Bancária. Em 2015 havia uma placa do Banco da Amazônia nesse empreendimento da
Fazenda Góes. Se esse for o caso, é possível que essa Instituição Bancária
esteja fomentando a destruição do meio ambiente e sustentando um conflito agrário
contra o povo Apinajé. Nenhum Banco deveria permitir financiamento de
empreendimentos agrícolas em áreas de conflitos, contestada e reivindicadas por comunidades
indígenas.
Lembrando que essa área é parte de nosso território tradicional e no momento o Processo de levantamento fundiário dos ocupantes de boa-fé dessa parte do nossa terra tradicional que falta ser demarcada e regularizada encontra se parado na FUNAI/Brasília. A FUNAI também não cumpriu decisão da Justiça Federal de Araguaína, que manda a União/FUNAI demarcar nossa terra no prazo de dois anos. Esperamos que essa questão seja logo resolvida pelas autoridades competentes para evitar a destruição do meio ambiente, a geração de disputas territoriais e conflitos socioambientais que envolvem e tencionam toda região. Queremos viver em Paz!
Diante dos
fatos alertamos a FUNAI, IBAMA, MPF-TO, PF e os demais Órgãos de Segurança
Pública responsáveis, sobre eminente riscos do agravamento de conflitos entre
fazendeiros e o povo Apinajé. Pelo fato das atividades estarem ocorrendo muito próximo
das aldeias, isso causa sérias perturbações e interferências na vida das comunidades;
que já estão sofrendo impactos direto do empreendimento. Denunciamos a postura
conflituosa, invasiva e intransigente do proprietário (as) que mesmo ciente
das contrariedades e discordâncias da população Apinajé; insiste em levar a
diante o empreendimento.
Associação União
das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ
Associação
das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins-WYTY CATE
Terra
Indígena Apinajé, dezembro de 2024