Parceiros
do WWF vindos da Europa, Ásia, Rússia, EUA e Canadá, visitam Terra Indígena
Apinajé
Ativistas da WWF observam viveiro que produz mudas de espécie nativas do Cerrado na aldeia Prata. (foto: Anderson Apinagé. Março de 2017) |
No último
dia 28/03/17 terça-feira, recebemos a visita de ativistas do WWF
vindos de vários países da Europa, Ásia, Rússia, EUA e Canadá, que estiveram
visitando a aldeia Prata, na Terra Apinajé. A vinda desses parceiros a nossa
comunidade, só foi possível graças nossa articulação com a Carolina Siqueira do
WWF-Brasil.
Durante
nossa conversa com os ativistas do WWF relatamos as ameaças e impactos do
Projeto de Desenvolvimento do Cerrado - PRODECER, que desde a década de 90 vêm
atingindo os territórios indígenas, quilombolas e camponeses dessa região. Esse tem sido o principal foco e motivo de
preocupação e mobilização dos povos do Cerrado brasileiro; no momento um dos
Biomas mais agredido do País.
Atualmente a nova investida do Agronegócio sobre os territórios indígenas,
quilombolas e assentamentos é denominada PDA/Matopiba, e promete agravar ainda
mais os conflitos sociais, ambientais e a violência nos Estado de Maranhão,
Tocantins, Piauí e Bahia. Nessa região muitas famílias estão sendo retiradas e expulsas
de suas terras por meio de chantagens, ameaças de morte ou sendo despejadas por
mandatos judiciais. Diante da agressividade dos invasores, está acontecendo à
luta e resistência dos Povos; e confrontos violentos serão inevitáveis.
Mapa da região de abrangência do PDA/Matopiba. (foto: internet) |
A beleza e a diversidade de nossa flora
formada por pequizeiros, jatobás, ipês, bacuris, aroeiras, candeias, buritis,
cedros e outras importantes espécies nativas do Cerrado, estão sendo destruídas
pelo Agro. Muitas nascentes de ribeirões e rios estão sendo envenenados,
assoreados, secando (ou totalmente secos) em razão do desflorestamento para
formação de pastagens, implantação de carvoarias, plantios de eucaliptos e
produção de grãos em larga escala para exportação.
A rica
fauna do Cerrado está sendo violentamente extinta pelo acelerado desmatamento
desse Bioma, animais como ema, lobo guará, jaguatirica, tamanduá bandeira, tatu,
veado campeiro, onça pintada e várias espécies de abelhas poderão desaparecer
em poucos anos. A ação devastadora dos tratores, dos motosserras e dos
pulverizadores está transformando o Oeste da Bahia, Sul do Maranhão e o
Tocantins num deserto verde de soja, milho e outros grãos cultivados com
agrotóxicos. A biodiversidade do Cerrado está comprometida pela insensatez,
ganância e arrogância de alguns.
Sabemos
que o Agro não é tudo que afirma ser, historicamente o setor tem sido acusado
de produzir proteína animal e grãos a custas de trabalho escravo, grilagem de
terras e desmatamento ilegal. Muitos pecuaristas são apontados ainda como
mandantes de assassinatos de ativistas de movimentos ambientalistas, lideranças
indígenas, quilombolas e camponeses.
As
autoridades e instituições do Estado brasileiro muitas vezes se ajuntam a esses
fazendeiros em ações arbitrárias que resultam em despejos, prisões, ameaças de
morte, execuções, intimidações e outras violações de direitos humanos, que
ocorrem em disputas territoriais com povos indígenas, comunidades quilombolas e
pequenos trabalhadores rurais. O resultado é que sempre somos massacrados por essa
classe dominante, colonizadora, escravocrata, genocida e opressora.
Nos
últimos anos o setor ruralista tem promovido intensa campanha no âmbito dos
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário contra direitos constitucionais dos
indígenas e quilombolas. Desde 2013 foram várias as tentativas de levar a PEC
215/2000 para votação no plenário da Câmara dos Deputados, felizmente não
conseguiram. Mas, as CPIs da FUNAI e do INCRA estão em curso naquela casa
legislativa. O desmonte da FUNAI por Michel Temer e seu Ministro da Justiça,
Osmar Serraglio também é parte dessa ofensiva infame dos ruralistas contra
nossas populações.
Alguns
veículos da imprensa que são pautados e financiados pelo Agronegócio,
igualmente aderiram a essa campanha do ódio. Diariamente e de forma repetitiva em
suas programações essas mídias destacam a pujança do setor, afirmando que o “o
Agro é tudo”. Por outro lado as questões indígenas e ambientais são ignoradas,
ocultadas ou omitidas por esses grandes veículos de comunicação. Ao mesmo tempo
essa retórica causa um grande impacto na sociedade, contribuindo para o aumento
do preconceito e da violência contra quem pensa e age diferente.
Correntões usados para desflorestamento do Cerrado na Fazenda Góes. (foto: Marcelo G. Brasil. Set. 2014) |
Enquanto
isso a maioria das terras indígenas seguem desprotegidas e invadidas. E o governo
continua ignorando e não cumprindo o que estabelece o Art. 231 da Constituição
Federal de 1988. Os governantes ainda desprezam e não observam a Convenção 169
da OIT e outros tratados internacionais ratificados pelo Brasil. Alinhados com a
bancada ruralista e alegando um suposto desenvolvimento, os governos agem para afrouxar
as regras e facilitar implantação de grandes empreendimentos sem licenciamento
ambiental.
Se
persistirem tantas reformas; retrocessos e retirada de direitos, é provável que
em poucos anos os povos indígenas sequer serão ouvidos e consultados pelas empresas
interessadas em construir obras que impactam negativamente seus territórios. Oprimindo
os povos dessa maneira, esse sistema só conseguirá desenvolver e gerar mais violências,
conflitos, desigualdades sociais e fome.
Os
políticos e as empresas interessados na construção de hidrelétricas, mineração,
ferrovias, rodovias e portos, sempre falam em “desenvolvimento” para o povo,
mas, nas aldeias indígenas, vilas de ribeirinhos e assentamentos os serviços públicos
de saneamento básico continuam precários, o atendimento à saúde é deficiente, a
educação não atende as expectativas da diversidade étnica e cultural do Brasil, e as populações
nunca são apoiadas por nenhum governo para desenvolver suas próprias
iniciativas de geração de renda. Este é o Brasil “desenvolvido” que estão
construindo.
A vinda
dos ativistas do WWF ao Brasil acontece num momento oportuno em que a
Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB lançou a Campanha da
Fraternidade 2017, com o tema: Fraternidade: "biomas brasileiros e a defesa da vida". a Campanha
convida à sociedade para uma reflexão sobre os graves problemas ambientais e nossa
relação com a Biosfera do Planeta.
Após três horas de conversas com caciques e lideranças
Apinajé na aldeia Prata, os ativistas do WWF visitaram uma área de Cerrado
desmatada na Fazenda Góes, localizada na zona rural de Tocantinópolis próximo à
aldeia São José. E ao meio dia a caravana partiu; continuando sua jornada pela
região do PDA/Matopiba.
Terra Indígena Apinajé, 10 de abril de 2017
Associação União das Aldeias Apinajé - Pempxà
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