“SE
ESSES TERRITÓRIOS ESTIVESSEM COM OS FAZENDEIROS, ESSAS MATAS JÁ TINHAM ACABADO
E ESSES RIBEIRÕES JÁ ESTAVAM SECOS E/OU POLUÍDOS”
Crianças Apinajé no ribeirão Botica, patrimônio ameaçado. (foto: AntonioVeríssimo. Set. de 2017) |
A partir de 2010 com a
conclusão da UHE Estreito, temos monitorado a qualidade e a quantidade das
águas do rio Tocantins e seus afluentes, especialmente as que nascem dentro da
TI Apinajé. Nesse período observamos a gradativa e repentina diminuição do
volume de águas das nascentes e ribeirões nos municípios de Tocantinópolis e
Maurilandia, localizadas a jusante do barramento.
Nos últimos 05 anos o rio
Tocantins vêm sofrendo a maior crise hídrica e seca de sua história, em 2016 a
travessia de balsa entre as cidades de Tocantinópolis - TO e Porto Franco - MA,
foi totalmente interrompida por falta d’água. Pescadores e barqueiros da região
afirmam que nunca viram o rio Tocantins nestas condições. Como se não bastasse
todos os anos a região é intensamente castigada pelos incêndios nos campos e florestais, desastres que também
contribui para degradação das nascentes e cabeceiras.
Desde que a Suzano Papel e
Celulose foi implantada em Imperatriz - MA, que vivemos sob constante ameaça
também dos plantadores de eucaliptos. Assim temos travado intensa luta para
impedir o desmatamento do entorno da TI pelos fazendeiros. Entendemos que essa
atividade vai degradar ainda mais o Cerrado e contribuir para assoreamento e
seca das nascentes, inclusive as que estão dentro da TI indígena. Mas, de forma
insensata e intransigente os fazendeiros insistem em desmatar de forma ilegal,
buscando o conflito a qualquer custo.
Aspecto do rio Tocantins em Tocantinópolis. (foto: Laudovina Pereira. CIMI/GOTO. Agosto de 2017) |
A 350 km rio acima na
cidade de Miracema - TO, localizada próxima a UHE de Lajeado o rio Tocantins no
seu trecho abaixo do barramento encontra se irreconhecível, degradado e quase
seco. A montante da obra observa se um lago quase parado, com águas cada vez
mais poluídas e quentes. O entorno da TI Xerente no município de Pedro Afonso -
TO está totalmente tomado pela cana e soja. Se continuar nesse ritmo em poucos
anos teremos extensas áreas de Cerrados transformados em desertos, com
conseqüências gravíssimas para a população da bacia hidrográfica Tocantins/Araguaia.
As condições do Rio Araguaia e
seus afluentes também é muito crítica, especialmente no trecho que passa nos
Estados de Goiás e Mato Grosso o rio já sofre com as voçorocas e assoreamentos.
Nessa região do Brasil predomina as atividades agropecuária, praticada muitas
vezes sem responsabilidade e gestão ambiental adequada. O controle e a
fiscalização e por parte dos órgãos ambientais não funcionam, e as instituições
do Estado parecem cada vez mais insuficientes burocráticas e corrompidas. E
para piorar o Araguaia e seus afluentes recebem diariamente toneladas de lixos,
esgotos e pesticidas despejado pelas cidades e vilas de ribeirinhos.
Outro rio brasileiro que também
nasce no Cerrado e corre pra Leste, o rio São Francisco encontra se em situação
ainda pior. Alguns (poucos) políticos, ambientalistas, artistas e religiosos
tem se levantado em defesa do “Velho Chico”.
No dia 05/09/17, durante depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos -
CAE, o Senador Otto Alencar do PSD da Bahia, lembrou que há muitos anos clama
pela revitalização do rio São Francisco, mas reconhece que pouco foi realizado,
o parlamentar declarou que em razão da situação de extrema gravidade e crise
hídrica algo precisa ser feito pelos rios brasileiros.
Essa é a situação dos rios do
Centro - Norte e Nordeste do Brasil, infelizmente o governo golpista do Michel
Temer e a maioria dos Senadores e Deputados que o sustentam, não tem nenhuma
proposta séria para proteger, defender e revitalizar esses importantes rios
brasileiros. O que percebemos são planos para desmatar cada vez mais a Amazônia
e o Cerrado e continuar entregando nosso patrimônio e destruindo os mananciais
hídricos.
O plantio intensivo de
soja, eucaliptos, milho, arroz e cana para exportação, praticada pelo
agronegócio são atividades que mais demanda e depende de água. Mas,
ironicamente o setor ruralista é quem mais está desmatando, destruindo e
degradando as nascentes e mananciais de águas do país.
Diante dessa situação só
nos resta articulação das diversas organizações da sociedade civil e fazer uma
ampla mobilização política e social para forçar os governos, os parlamentares e
empresas recuarem com seus projetos destruidores. Ainda é fundamental acionar a
PGR/MPF e o judiciário para obrigar esses infratores a observar e cumprir a CF
e a legislação ambiental do país. A articulação e parceria com entidades ambientalistas
de outros países são necessárias para se ter êxito.
Terra
Indígena Apinajé, 06 de setembro de 2017
Associação
União das Aldeias Apinajé-Pempxà
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