29 de jul. de 2014

SAÚDE INDÍGENA

HOSPITAL MUNICIPAL JOSÉ SABÓIA: DESCASO E NEGLIGÊNCIA

Ednaldo C. da Silva Apinagé. (foto: Ana R. da Silva
Apinagé. Jun. de 2014)
      Em 05/07/14 o recém-nascido Ednaldo Cavalcante da S. Apinajé, de três meses de idade, filho de Ana Rosa da S. Apinajé e Edvaldo Cavalcante Apinajé, moradores na aldeia Divisa, Terra Indígena Apinajé, deu entrada no Hospital Municipal José Saboia, na cidade de Tocantinópolis (TO). A criança estava com febre e apresentava sintomas de pneumonia e ficou hospitalizado por dois dias. Em 07/07/14 o Dr. Carlos M. Tello deu lhe alta e a criança retornou à aldeia.
     Na aldeia a criança voltou os mesmos sintomas, sendo novamente levado ao Hospital José Saboia onde foi hospitalizada e, desta vez medicada pela Dra. Luciana Dônola Puppio, médica pediatra daquele hospital e em 11/07/14 recebeu alta. Mas, em casa a criança piorou e no dia 12/07/14 o recém-nascido foi levado novamente ao Hospital Municipal José Saboia, onde permaneceu internado até 14/07/14, já em estado grave o bebê foi removido às pressas para hospital de Araguaína. O pequeno paciente foi a óbito no mesmo dia 14/07/14 a caminho daquela cidade.
O bebê com sua avó. (foto: Ana R.
da Silva Apinagé. Jun de 2014)
     A mãe da criança, Ana Rosa da S. Apinagé afirmou que sofreu agressões verbais e xingamentos por parte de uma enfermeira do hospital. Os familiares do recém-nascido culpam os médicos de descuido e irresponsabilidade, por que não encaminharam logo o paciente para tratamento em Araguaína. Os parentes da vítima também reclamam que mesmo em estado grave e já tendo sido internado duas vezes no HMJS, o recém-nascido não teve melhora e nem foi encaminhado em tempo hábil para outro hospital.
    Em circunstâncias parecidas, no final de 2006 num intervalo de três meses, mais de 20 recém-nascidos desta etnia foram a óbito por falta de atendimento adequado. Ressaltamos que algumas enfermeiras e médicos do HMJS são recorrentes em negligenciar o atendimento aos pacientes indígenas. Por conta disso em 2009, enfermeiras daquele hospital foram acusadas de erro grave em procedimentos na administração de medicamentos, fatos que causaram a morte de duas crianças Apinajé.
    Nestes termos, exigimos mais uma vez, do Dr. Jeferson Farias, Diretor do Hospital Municipal José Saboia, explicações imediatas sobre essas denuncias que pesam sobre as enfermeiras e os médicos que atenderam e medicaram o recém-nascido Ednaldo Cavalcante da S. Apinajé. Nesse caso cabe também à senhora Cimei Gomes de Sousa, chefe administrativa do Polo Base Indígena-PBI de Tocantinópolis e as enfermeiras de plantão, esclarecer os fatos que ocorreram durante os dias que a criança ficou internada.


Terra Indígena Apinajé, 29 de julho de 2014.



Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ.

CULTURA

PÀRKAPÊ: RITUAL SAGRADO DO POVO APINAJÉ

No final do Pàrkapê, homens prontos para corrida com toras grandes. (foto: Iran Veríssimo Apinagé. Jul. de 2014)

Corrida com toras pequenas. (foto: Iran Veríssimo Apinagé. Jul. de 2014)

Entre os dias 01 a 25 de julho do corrente foi celebrado na Terra Indígena Apinajé, no município de Tocantinópolis, Estado do Tocantins, o tradicional Ritual Pàrkapê, ou Tora Grande como é conhecido. Ao menos 300 pessoas vindas de 12 aldeias Apinajé se reuniram na aldeia Boi Morto para realizar a celebração. Algumas famílias do povo Krahô da aldeia Cachoeira, no município de Itacajá, também participaram.
    Atualmente o Pàrkapê é uma das principais celebrações do povo Apinajé e é realizada para lembrar as pessoas falecidas. Esse é um ritual que envolve todos os familiares e parentes das pessoas homenageadas, que se reúnem para celebrar essa importante cerimonia de encerramento de luto. Esse ano Pàrkapê foi realizado em homenagem a anciã Júlia Corredor Apinajé, de 96 anos que faleceu ano passado.
Cerimonia de corte de cabelo. (foto: Iran Veríssimo Apinagé. Jul. de 2014)

Nos meses de julho e agosto é a época adequada para realizar essa celebração, no qual festejamos sem a chuva, pois a maior parte das atividades acontece ao ar livre em espaços abertos como o pátio da aldeia, as matas e campos. Esse contato direto com a natureza melhora nossas relações de respeito e coexistência com o meio ambiente.  É momento também de afirmar e fortalecer nossas afinidades e vínculos pessoais, familiares e sociais.

A celebração do Pàrkapê,  tem por finalidade reverenciar os mortos, seja criança, adulto ou ancião. O Pàrkapê é um ritual inspirado por sentimentos e expressões, onde são realizadas corridas de toras, corridas de flechas, cantorias, choros, cortes de cabelo e danças em memória das pessoas falecidas e sempre acontece um ano depois que o individuo morre.
Cantoria e dança. (foto: Iran Veríssimo Apinagé. Jul. de 2014)

Para nós, o Pàrkapê significa também um cerimonial sagrado, cheio de mística e espiritualidade, realizado com muita seriedade, pois as toras da palmeira buriti que são cortadas e utilizadas representam as pessoas homenageadas. Por meio desse ritual nossas relações de convivências sociais reguladas por princípios e sentimentos de amizade, alegria, solidariedade, igualdade, humildade, respeito e amor ao próximo, continuam mesmo depois da morte.

Entendemos que a celebração deste ritual é necessária para manutenção e fortalecimento de nossa cultura. Sendo importante a participação e o envolvimento dos jovens, para que os mesmos possam adquirir os saberes e conhecimentos dessa tradição e assim manter nossa identidade étnica e fortalecer nossos valores culturais.


Terra Indígena Apinajé, 29 de julho de 2014.



Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ.

10 de jul. de 2014

MEIO AMBIENTE

BRIGADA APINAJÉ: PROVA DE FOGO
Brigadistas Apinajé em atividades na aldeia Barra do Dia, município de Maurilândia. (foto: Antônio Veríssimo. Jul. 2014)

Chefe de Brigada conversa com liderança Apinajé. (foto: Antônio Veríssimo. Jul. 2014)

Período de junho a setembro, esse é o tempo da florada e crescimento dos frutos dos pequizeiros, cajueiros, bacurizeiros e de outras espécies de árvores e palmeiras nativas dessa região. A partir de agora o cerrado e seus habitantes vivem sob a intensa e perigosa ameaça dos incêndios que poderão ocorrer nessa época. De forma cíclica e repetitiva todos os anos milhares hectares de campos, florestas e matas ciliares do território Apinajé, localizado no Norte do Estado do Tocantins vem sendo suprimidos e alterados pelo fogo.

Por meio de convênio firmado entre o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA e a Fundação Nacional do Índio-FUNAI, no inicio de maio de 2014 foi realizada a seleção, capacitação e contrato de 15 Brigadistas indígenas da etnia Apinajé pelo Centro de Prevenção e Controle aos Incêndios Florestais do IBAMA/Prev-Fogo.
 
Equipados com viaturas 4X4, rádios de comunicação, GPS, máquinas fotográficas e outros equipamentos esses 15 brigadistas indígenas já estão atuando no território Apinajé desde inicio de junho.

Inicialmente a Brigada Indígena está realizando visitas de apresentação nas comunidades com objetivo de conversar com os caciques sobre as atividades que doravante serão desenvolvidas pelos 2 Esquadrões que atuarão simultaneamente nas fronteiras principais da área Apinajé. No momento os Brigadistas também estão desenvolvendo atividades de Monitoramento Territorial, fazendo reconhecimento das regiões críticas e vulneráveis nos limites dos municípios de Tocantinópolis, Maurilândia, São Bento do Tocantins e Cachoeirinha.
Brigadistas em atividades na TO 126. (foto: Antônio Veríssimo. Jul. 2014)

Alexandre Conde, chefe da Brigada Apinajé informou que os caciques e lideranças das aldeias visitadas estão sendo devidamente informados e orientados sobre algumas regras internas que doravante deverão ser observadas e cumpridas por todos. O chefe da Brigada disse também que os caciques e chefes de famílias demostraram considerável disposição de colaborar e apoiar as atividades dos Brigadistas.

Dessa forma alertamos também a toda população das cidades circunvizinhas e moradores do entorno do território Apinajé, que se alguém for flagrado colocando fogo em pastagens, campos e florestas dentro da área indígena, poderá ser detido e encaminhado às autoridades competentes. Os moradores que tem seus lotes nas proximidades da área Apinajé, de agora em diante deverão notificar com antecedência o IBAMA, FUNAI, NATURATINS, os caciques e Chefes de Brigadas, quando forem queimar suas roças e pastagens. 

Terra Indígena Apinajé, 10 de julho de 2014.



Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ