Pesquisar este blog

27 de mar. de 2025

MOVIMENTO INDÍGENA

 Reunidas no MS, lideranças indígenas de todo o Brasil cobram fim da mesa de conciliação no STF e derrubada da lei 14.701

Em território Guarani e Kaiowá, lideranças de vários povos firmaram pacto contra negociação de seus direitos. “Retomaremos nossos territórios um a um. Agora ou vai ou racha”, afirmam

Encontro nacional de lideranças no tekoha Ita'y, na TI Panambi - Lagoa Rica, entre os dias 18 e 20 de março de 2025. Foto: Tiago Miotto/Cimi

Encontro nacional de lideranças no tekoha Ita’y, na TI Panambi – Lagoa Rica, entre os dias 18 e 20 de março de 2025. Foto: Tiago Miotto/Cimi

Por Assessoria de Comunicação do Cimi

Lideranças de 24 povos indígenas reuniram-se na Terra Indígena (TI) Panambi – Lagoa Rica, em Douradina, no Mato Grosso do Sul, entre os dias 18 e 20 de março, para discutir os ataques contra seus direitos e suas estratégias de lutas contra os retrocessos em curso. Lideranças de todo o país integraram-se à reunião do conselho da Aty Guasu, que ocorria no tekoha Ita’y, uma das aldeias e retomadas que compõem a TI Panambi – Lagoa Rica.

Frente à estagnação nas demarcações de terras, o aumento da violência contra povos e comunidades em luta por seus territórios e o risco de desmonte total dos direitos indígenas pela mesa de conciliação do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a lei do marco temporal, as lideranças de 14 estados do país firmaram um pacto de luta e anunciaram uma grande mobilização em defesa de seus territórios e de seus direitos constitucionais.

“Ao mesmo tempo que impediremos retrocessos e armadilhas que tentem enganar nossos povos em nossas bases, anunciamos que marcharemos todos juntos a Brasília, denunciando abusos e violações, exigindo que nossos direitos sejam respeitados e que os três Poderes da República honrem com suas obrigações constitucionais”, afirma a carta de compromisso divulgada ao final do encontro.

“Enquanto nosso direito for negado pela institucionalidade, iremos encontrá-lo na prática, na marcha e na luta. Retomaremos nossos territórios, um a um, povo a povo, porque eles são fundamentais para nossa existência e já não aguentamos mais viver apartados deles. Não permitiremos mais que nossos anciões deixem o mundo sem poder viver e sonhar em nossas terras, junto a nossos encantados. Não esperaremos mais, agora ou vai ou racha”, garantem as lideranças, fazendo referência à luta histórica pela demarcação da TI Raposa Serra do Sol, em Roraima.

“O Ministério do Povos Indígenas [MPI] e a Funai precisam se retirar da mesa de negociação que ameaça nossa existência”

Encontro nacional de lideranças no tekoha Ita'y, na TI Panambi - Lagoa Rica, entre os dias 18 e 20 de março de 2025. Foto: Tiago Miotto/Cimi

Encontro nacional de lideranças no tekoha Ita’y, na TI Panambi – Lagoa Rica, entre os dias 18 e 20 de março de 2025. Foto: Tiago Miotto/Cimi

Sem negociação

No documento, os indígenas deixaram clara sua posição contrária à mesa de conciliação sobre a lei do marco temporal, criada pelo ministro do STF Gilmar Mendes e caracterizada pelas lideranças como “mesa de negociação”.

“O Ministério do Povos Indígenas [MPI] e a Funai precisam se retirar da mesa de negociação que ameaça nossa existência”, reivindicam os indígenas. A mesa foi suspensa por um mês, até o dia 28 de março, a pedido do governo federal.

Os indígenas também denunciam o que caracterizam como um “assédio” do governo, com propostas de compra de terras e negociações à margem do rito constitucional de demarcação, que não permite indenização a invasores e nem prevê o pagamento pela chamada “terra nua” a fazendeiros que ocupem terras dentro de territórios indígenas.

Na avaliação dos povos, esta política vai “na contramão da garantia de nosso direito Constitucional” e da decisão de repercussão geral do próprio STF sobre demarcações de terras indígenas.

“Não permitiremos que estas estratégias de agressão ao nosso direito e à nossa tradicionalidade sejam levadas a cabo contra o território de Panambi – Lagoa Rica nem contra nenhum território de nossos povos e parentes. Direitos negociados não são mais direitos. São concessões junto aos ladrões de nossas Terras e aos nossos agressores bem como a supressão de garantias fundamentais para nós, povos indígenas.

“A violência que acontece com os parentes Guarani e Kaiowá acontece também com outros povos que estão na linha de frente ameaçados de morte e sem o território demarcado”

Encontro nacional de lideranças no tekoha Ita'y, na TI Panambi - Lagoa Rica, entre os dias 18 e 20 de março de 2025. Foto: Tiago Miotto/Cimi

Encontro nacional de lideranças no tekoha Ita’y, na TI Panambi – Lagoa Rica, entre os dias 18 e 20 de março de 2025. Foto: Tiago Miotto/Cimi

Massacre e resistência

O local escolhido para o encontro foi palco, no ano passado, de um massacre contra os povos Guarani e Kaiowá. Durante mais de um mês, entre agosto e setembro, os indígenas do território sofreram ataques diários e ficaram cercados por um acampamento ruralista.

Nas retomadas realizadas em partes do território de 12,1 mil hectares delimitados pela Funai em 2011, há 14 anos, crianças, anciões, mulheres e homens foram alvo de um cerco de caminhonetes e homens armados, com a conivência do Estado – e, inclusive, com a presença da Força Nacional. Diversos indígenas foram feridos por disparos de armas de fogo, ao menos cinco com gravidade.

As lideranças de outros estados que se somaram à assembleia Kaiowá e Guarani ouviram relatos das violências brutais a que as comunidades do território foram submetidas, mas também testemunharam os frutos de sua resistência: apesar da violência, os Guarani e Kaiowá consolidaram a posse de sete retomadas no interior da TI.

“Muitos de nós viemos de aldeias e territórios distantes. Vencemos estradas, atravessamos quilômetros, cruzamos rodovias e rios, trazendo na bagagem solidariedade e vontade de lutar”, afirmam as lideranças.

“A violência que acontece com os parentes Guarani e Kaiowá acontece também com outros povos que estão na linha de frente ameaçados de morte e sem o território demarcado”, aponta a carta. “Junto a eles e com eles pactuamos o clamor pela justiça e a busca incondicional por nossos direitos”.

Além de lideranças Guarani e Kaiowá, participaram do encontro lideranças dos povos Avá-Guarani e Kaingang, do Paraná; Munduruku, Arapiun e Gavião, do Pará; Pataxó, da Bahia; Guarasugwe, Karitiana e Oro Nao, de Rondônia; Krenye, Kariú-Kariri e Apãnjekra-Canela, do Maranhão; Karaxuwanassu, de Pernambuco; Kariri, do Ceará; Chiquitano, de Mato Grosso; Nukini, do Acre; Maraguá e Mura, do Amazonas; Pankararé, de São Paulo; Xukuru-Kariri, de Minas Gerais; e Apinajé e Xerente, do Tocantins.

Leia a carta abaixo na íntegra ou clique aqui para baixá-la em pdf:

 

CARTA DE COMPROMISSO DO ENCONTRO NACIONAL DOS POVOS INDÍGENAS NO MATO GROSSO DO SUL

Aldeia Itay, Território de Panambi Lagoa Rica,

Mato Grosso do Sul, 20/03/2025

No dia 18 de março de 2025, os primeiros raios de sol coloriram o horizonte Sagrado do Território Kaiowa e Guarani de Panambi Lagoa Rica, no Mato Grosso do Sul, a figura de uma grande Casa de Reza foi iluminada. Junto a ela, em Luta, em Reza e em Canto Sagrado nós assumimos o grande pacto e compromisso de avançar na demarcação de nossas Terras e afastar os perigos e armadilhas das tentativas de negociação/conciliação de nossos direitos por parte do Governo e do Estado Brasileiro.

Nós hoje, somos um.

Entre os dias 18 e 20 de março de 2025, estivemos enquanto lideranças de mais de 24 povos de todas as regiões do Brasil, sendo: Kaiowa, Nhandeva, Avá Guarani, Munduruku, Arapiun, Gavião, Kaingang, Pataxó, Guarasugne, Karitiana, Oro Nao, Kreniê, Xerente, Xucuru Kariri, Kariú Kariri, Apãnjekra Kanela, Karaxuwanassu, Chiquitano, Nukini, Maraguá, Mura, Pankararé e Apinajé. Participando um Encontro de Lideranças e somando na luta com os parentes Guarani e Kaiowá.

Muitos de nós viemos de aldeias e territórios distantes. Vencemos estradas, atravessamos quilômetros, cruzamos rodovias e rios, trazendo na bagagens solidariedade e vontade de lutar.

Encontramos entre os Kaiowa e Guarani povos valentes, herdeiros de uma luta inacreditável, detentores de uma determinação comovente e de uma espiritualidade poderosa e contagiante. Junto a eles e com eles pactuamos o clamor pela justiça e a busca incondicional por nossos direitos. Incansavelmente encontraremos a dignidade para nossos povos através da demarcação de nossos territórios.

Estivemos em Ivy Ajere, onde no ano passado, por mais de 40 dias, um acampamento miliciano imprimiu terror contra parentes desarmados. Diante da completa omissão e até mesmo da conivência do Estado e do Governo, famílias foram massacradas e alvejadas em cenas de guerra e barbárie.

Sentimos e partilhamos a dor do povo Kaiowa e Guarani, que espera pela demarcação desta Terra desde 2011. Todos os parentes que aqui estiveram, de todos os Povos, tem histórias semelhantes. Lembramos dos massacres, das lideranças assassinadas, dos ataques que sofremos cotidianamente. Assim como no Mato Grosso do Sul, a violência avança contra nossos povos e a natureza em todas as regiões do Brasil através da monocultura, madeireiros, mineradoras, imobiliára, empresas e dos megaprojetos.

A raiz de toda essa violência segue sendo o avanço do modelo econômico Capitalista e Colonial e diante disso a omissão do Estado Brasileiro em garantir a demarcação de nossas Terras. Nos Governos anteriores e no atual Governo os direitos indígenas seguem sendo negociados e esquecidos, a grande maioria de nossos territórios ainda aguarda publicação, declaração e(ou) homologação.

Enquanto isso a soja e o milho avançam e as crianças e mulheres estão sendo contaminadas pelo agrotóxico e o leite materno está envenenado. O veneno das fazendas está contaminando as plantações que alimentam nosso povo.

Entendemos que o Ministério do Povos Indígenas e a Funai precisam se retirar da mesa de negociação que ameaça nossa existência.

Na contramão da garantia de nosso direito Constitucional o Estado segue assediando nossos povos através da mesa de conciliação/negociação do Marco Temporal e de propostas de compra de terra inclusive contrariando as direções apontadas pelos Ministros do STF, quando do julgamento do Recurso Extraordinário 1.017.365.

Para este Território Tradicional no qual estamos pisando – Panambi Lagoa Rica – sabemos que o Governo pretende apresentar propostas de compra de terra tais quais praticou contra o território Guarani e Kaiowá, onde aproveitando de uma situação sensível do povo Kaiowa, procedeu de maneira imoral e ilegal, indenizando indiscriminadamente assassinos dos povos Kaiowa e Guarani sem nenhuma margem constitucional para isso.

Sabemos que da mesma maneira, o Governo tem assediado outros povos no Mato Grosso do Sul, como o povo Terena, buscando junto aos territórios de Buriti e Taunay Ipegue, abrir precedentes para ferir nosso direito constitucional.

É vergonhoso assistir o Congresso Nacional atropelando decisões do próprio STF e ameaçando nossos povos através de uma lei inconstitucional que revive o Marco Temporal bem como preparar a PEC 48 como instrumento de morte para nossos direitos constitucionais mesmo cientes de que são cláusulas pétreas da CF88. Bem como, nos envergonha que os outros dois poderes (executivo e judiciário) utilizem deste instrumento de morte, alinhando-se as bancadas inimigas dos povos, para amedrontar e chantagear nossos povos forçando-os a aceitar propostas que em si já ferem nossa tradicionalidade – essência do reconhecimento de nosso direito ancestral e originário.

É igualmente absurda e constrangedora a insistência do Governo na pratica ilusionista e golpista de questionar o atual método de demarcação administrativa via decreto 1775, escondendo o fato de que foram os próprios governos, negligenciando sua atribuição e responsabilidade de implementação do decreto que paralisaram e inviabilizaram as demarcações – atribuição está exclusiva do Executivo.

Não permitiremos que estas estratégias de agressão ao nosso direito e à nossa tradicionalidade sejam levadas a cabo contra o território de Panambi Lagoa Rica nem contra nenhum território de nossos povos e parentes. Direitos negociados não são mais direitos. São concessões junto aos ladrões de nossas Terras e aos nossos agressores bem como a supressão de garantias fundamentais para nós, povos indígenas. O Direito indígena é premissa sagrada conquistada com o derramamento de sangue de nossas lideranças e nossos ancestrais, garantidos pela Constituição Federal de 1988 e guiados e protegidos pelos nossos encantados.

Ao mesmo tempo que impediremos retrocessos e armadilhas que tentem enganar nossos povos em nossas bases, anunciamos que marcharemos todos juntos a Brasília, denunciando abusos e violações, exigindo que nossos direitos sejam respeitados e que os três poderes da republica honrem com suas obrigações constitucionais.

A violência que acontece com os parentes Guarani e Kaiowá acontece também com outros povos que estão na linha de frente ameaçados de morte e sem o território demarcado.

Por fim, declaramos que enquanto nosso direito for negado pela institucionalidade, iremos encontra-lo na pratica, na marcha e na luta. Retomaremos nossos territórios, um a um, povo a povo, porque eles são fundamentais para nossa existência e já não aguentamos mais viver apartados deles. Não permitiremos mais que nossos anciões deixem o mundo sem poder viver e sonhar em nossas terras, junto a nossos encantados. Não esperaremos mais, agora ou vai ou racha.

Precisamos permanecer vivos, mas vivos em nossos territórios demarcados e livres de ameaças ou de negociação sobre nossos direitos.

Exigimos enquanto movimento de unidade entre nossos povos que:

– Sejam retomados e finalizados os procedimentos administrativos de demarcação. E exigimos que a FUNAI crie imediatamente o Grupo de Trabalho (GT) e vá até os territórios realizar os estudos de identificação e delimitação.

– Seja declarada a inconstitucionalidade da lei 14.701.

– Seja encerrada imediatamente as mesas de conciliação/negociação do Marco Temporal. 

– O STF julgue urgentemente os embargos do RE 1.017.365.

– Exigimos que os fazendeiros sejam punidos pelos crimes cometidos e imediatamente retirados dos territórios indígenas.

– Exigimos que a Sesai venha urgentemente atender em nas nossas retomadas.

10 de dez. de 2024

FAZENDA GÓES

POVO APINAJÉ SOB PRESSÃO DE FAZENDEIROS: LIDERANÇAS DENUNCIAM A CONTINUIDADE DE DESMATAMENTOS NA FAZENDA GÓES, PRÓXIMO À ALDEIA SÃO JOSÉ

Desmatamento de área na Fazenda Góes, próximo à aldeia São José. (foto: arquivo PEMPXÀ. Dezembro de 2024)

Na última quinta-feira, 05/12/2024, verificamos que tratores estão desmatando áreas da Fazenda Góes localizada às margens da rodovia BR 230 (antiga transamazônica) nas proximidades da aldeia São José, em Tocantinópolis (TO). A retomada do desmatamento na Fazenda Góes reabre essa frente de divergência e conflito agrário nesta área contestada e reivindicada por nosso povo. Isso ocorre duas semanas depois que denunciamos a continuidade do desmatamento de outras áreas nas Fazendas Dona Maria e Gleba Matão localizadas também dentro dessa área tradicional em Processo de demarcação pela FUNAI.

 

O desmatamento na Fazenda Góes foi iniciado em setembro de 2013, e após denúncias, manifestações e protestos da comunidade Apinajé, no ano de 2015 o NATURATINS atendendo recomendações do MPF-AGA anulou a Licença que havia sido emitida em favor da proprietária. No período entre 2015 e 2023 houve gradativa recuperação da área desmatada, entretanto em setembro de 2023 tratores voltaram novamente desmatar o local. Mas as atividades foram paralisadas após denúncias da comunidade indígena. 

 

A citada área desmatada da Fazenda Góes está localizada a apenas 500 metros da aldeia São José, a principal e mais populosa comunidade Apinajé. O empreendimento iniciado em 2013 já destruiu parte das cabeceiras e matas ciliares do ribeirão Góes que nasce dentro da Fazenda e corre para terra indígena demarcada. As aldeias São José, Baixa Funda, Cocal Grande e Prata utilizam as águas desse ribeirão para banhar, lavar roupas e as vezes beber, serão impactadas diretamente. A comunidade teme que o fazendeiro faça uso de agrotóxicos nas plantações e as águas fiquem contaminadas. Devido o desmatamento dessas nascentes as águas do ribeirão Góes já está secando.

 

Denunciamos que o fazendeiro continua os serviços numa área (sensível) de nascentes, na divisa da terra indígena, e nas proximidades de aldeias. Essa atividade ilegal acontece dentro de terras da União, e área de ocupação tradicional do povo Apinajé, reivindicada por essa comunidade indígena. A citada área já havia sido embargada em 2015, mas agora as atividades foram retomadas no local. Pedimos esclarecimentos ao Instituto Natureza do Tocantins-NATURATINS, sobre a emissão de Licenças ambientais nessas condições. No caso da FUNAI/BSB e o IBAMA esses órgãos alegam que não foram informados sobre o empreendimento e nem participaram do Processo de Licenciamento Ambiental.

Áreas de nascentes desmatadas na Fazenda Góes, na divisa da T.I. Apinajé. (foto: arquivo PEMPXÀ dezembro de 2024)

O Art. 6º da Convenção 169 da OIT estabelece que:

1. na aplicação das disposições da presente Convenção, os governos deverão: ‘consultar os povos interessados, por meio de procedimentos adequados e, em particular, de suas instituições representativas, sempre que sejam previstas medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente.  Entretanto nossas lideranças e organizações não foram informados, ouvidos ou consultados pelo empreendedor e nem pelo NATURATINS órgão do governo estadual que em 2013 conduziu o Processo de Licenciamento por conta própria.

 

Alertamos que nossas nascentes de águas podem ser envenenadas pelas tais pesticidas/herbicidas, conhecidas como agrotóxicos, usados nas plantações de soja, milho e eucaliptos. Até o momento temos dúvidas e não sabemos quais os produtos serão plantados na área desmatada; pois não foram realizados Estudos de Impactos Ambiental-EIA/RIMA e nenhum Documento ou Relatório foram emitidos para prévia análise dos órgãos ambientais.

 

Também pedimos que o Banco da Amazônia esclareça os critérios e regras dos seus financiamentos e empréstimos destinados aos proprietários do município de Tocantinópolis e região. A gerencia do BASA deve informar se as citadas propriedades rurais limítrofes ao território Apinajé estão recebendo empréstimo dessa Instituição Bancária. Em 2015 havia uma placa do Banco da Amazônia nesse empreendimento da Fazenda Góes. Se esse for o caso, é possível que essa Instituição Bancária esteja fomentando a destruição do meio ambiente e sustentando um conflito agrário contra o povo Apinajé. Nenhum Banco deveria permitir financiamento de empreendimentos agrícolas em áreas de conflitos, contestada e reivindicadas por comunidades indígenas.    

 

Lembrando que essa área é parte de nosso território tradicional e no momento o Processo de levantamento fundiário dos ocupantes de boa-fé dessa parte do nossa terra tradicional que falta ser demarcada e regularizada encontra se parado na FUNAI/Brasília. A FUNAI também não cumpriu decisão da Justiça Federal de Araguaína, que manda a União/FUNAI demarcar nossa terra no prazo de dois anos. Esperamos que essa questão seja logo resolvida pelas autoridades competentes para evitar a destruição do meio ambiente, a geração de disputas territoriais e conflitos socioambientais que envolvem e tencionam toda região. Queremos viver em Paz!

 

Diante dos fatos alertamos a FUNAI, IBAMA, MPF-TO, PF e os demais Órgãos de Segurança Pública responsáveis, sobre eminente riscos do agravamento de conflitos entre fazendeiros e o povo Apinajé. Pelo fato das atividades estarem ocorrendo muito próximo das aldeias, isso causa sérias perturbações e interferências na vida das comunidades; que já estão sofrendo impactos direto do empreendimento. Denunciamos a postura conflituosa, invasiva e intransigente do proprietário (as) que mesmo ciente das contrariedades e discordâncias da população Apinajé; insiste em levar a diante o empreendimento.

 

Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ

Associação das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins-WYTY CATE

 

Terra Indígena Apinajé, dezembro de 2024     

2 de dez. de 2024

INVASÕES E AMEAÇAS


AERONAVE AGRÍCOLA REALIZA SOBREVOOS RASANTES SOBRE ALDEIA APINAJÉ NO NORTE DE TOCANTINS

Coincidência ou não, quatro dias após a divulgação de Manifesto público do Povo Apinajé contra desmatamentos em áreas das Fazenda "Dona Maria" e Gleba Matão no Município de Tocantinópolis (TO). Conforme mostra esse vídeo, ontem 01/12/2024 às 16:50mim da tarde de repente surgiu uma aeronave voando em baixa altitude vinda da direção Sul, e realizou dois sobrevoos rasantes sobre a aldeia Cocalinho, localizada na área rural do município de Cachoeirinha, Norte de Tocantins. Após o sobrevoo a aeronave seguiu para o Norte, na direção de Imperatriz (MA). Com certeza esse não foi um fato isolado, uma brincadeira ou porque o piloto estava "perdido", é claro que esse sobrevoo foi intencional e teve objetivos de repassar um recado à comunidade. É possível que essa Ação planejada realizada de maneira imprudente, provocativa e irresponsável tenha correlação com os desmatamentos que estão ocorrendo nas referidas Fazendas localizadas dentro da área Apinajé reivindicada. Quais outros motivos que levariam um piloto de uma aeronave agrícola invadir um território indígena e fazer voos rasantes sobre uma aldeia específica?! A comunidade pede que esse fato seja investigado e esclarecido. As autoridades competentes já foram notificadas sobre essa ocorrência e estamos adotando outras medidas de segurança.


Território Apinajé, 02 de dezembro de 2024


Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ         

27 de nov. de 2024

CONFLITO SOCIAMBIENTAL

 

MANIFESTO PÚBLICO DO POVO APINAJÉ CONTRA DESMATAMENTOS EM ÁREA REIVINDICADA PELA COMUNIDADE INDÍGENA

Desmatamento em área Apinajé, reivindicada. (foto: arquivo PEMPXÀ, julho de 2022)

Nós caciques e lideranças Apinajé, viemos manifestar nossa contrariedade e repudiar com veemência a retomada das atividades de desmatamentos de áreas das fazendas “Dona Maria” e Gleba Matão no município de Tocantinópolis, de propriedade do pecuarista Gilmar Gonçalves Carvalho. As atividades de desmatamentos e carvoarias nessa área iniciaram se em 2013, e após manifestações desta comunidade indígena, no ano de 2015 o empreendimento foi embargado pela Justiça. Entretanto nos últimos anos observamos a retomada das atividades, bem como o aumento e a ampliação da área desmatada. A referida área em questão está localizada na margem esquerda da antiga Rodovia BR 230 (transamazônica desativada) e abrange áreas dos municípios de Tocantinópolis e Nazaré. O Empreendimento foi implantado na divisa da terra indígena Apinajé, de forma ilegal, e sem a efetiva participação da FUNAI e do IBAMA no Processo de Licenciamento Ambiental, conduzido apenas pelo NATURATINS. Nossas lideranças e organizações também não foram ouvidas e nem consultadas no Processo conforme preconiza a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho-OIT. E nenhuma pesquisa ou Estudo de Impacto Ambiental foram realizados para dimensionar os impactos ambientais do empreendimento no território indígena. Portando declaramos o empreendimento ilegal, porque está desmatando parte de nosso território tradicional que ficou de fora da demarcação em 1985, por pressões de políticos e fazendeiros de Tocantinópolis e região. E que desde 1994 existe na Fundação Nacional dos Povos Indígenas-FUNAI/BSB um Processo de Levantamento Fundiário dos ocupantes não índios desta área reivindicada. No âmbito jurídico essa questão da demarcação da terra Apinajé, recentemente tivemos decisão da Justiça Federal de Araguaína favorável a comunidade indígena. Diante desses fatos, entendemos que o Empresário não pode continuar suas atividades, nesta área contestada e reivindicada pela comunidade Apinajé. Considerando ainda que o empreendimento está impactando e ameaçando nascentes e cabeceiras dos ribeirões Estiva e Betânia dentro do território já demarcado, e destruindo as matas ciliares dos ribeirões Cruz e Raiz dentro da referida área reivindicada. Denunciamos e pedimos providências das autoridades, diante dos riscos de uso de substâncias e produtos químicos conhecidos como agrotóxicos nesses empreendimentos agrícolas, situação que poderá levar à contaminação e envenenamento do solo, do ar e das águas na região. Moradores da aldeia Betânia localizada, próximo ao desmatamento relataram o sobrevoo de aeronaves agrícolas em baixa altitude sobre a comunidade. O avião de cor vermelha do modelo que pulveriza agrotóxicos.

Desmatamento na divisa da terra Apinajé demarcada. (foto: arquivo PEMPXÀ. agosto de 2024)

Ressaltamos o fato do Processo de demarcação desta área reivindicada pela comunidade Apinajé, ser de domínio público da sociedade local de Tocantinópolis e região. Portando consideramos o Senhor Gilmar Gonçalves Carvalho, informado e sabedor dos fatos, no entanto o empresário continua insistindo e levando a diante o empreendimento, mesmo ciente das implicações econômicas e questões de ordem jurídica que poderá responder no futuro. Reiteramos a gravidade e extensão dos fatos delituosos e crimes ambientais que ocorrem nesta área deste 2013, e que continuam acontecendo normalmente, mesmo depois da área ter sido embargada pelo MPF e está sendo reivindicada pela comunidade indígena. Informamos que até a presente data, ninguém mostrou ou apresentou qualquer Documento que comprove que o proprietário conseguiu derrubar o embargo e esteja autorizado continuar o empreendimento. Assim, consideramos as atitudes do Empresário imprudentes, ameaçadoras e arriscadas, já que o mesmo insiste num empreendimento conflituoso, danoso e prejudicial ao meio ambiente, dentro de uma área que está em Processo de demarcação e sendo pleiteada na Justiça pela comunidade indígena. Diante dos fatos expostos, requeremos;

1-      A paralisação imediata das atividades de desmatamentos em andamento nas localidades (Fazendas) Dona Maria e Gleba Matão, nos limites da terra Apinajé;

2-      Providências e medidas administrativas e jurídicas pelo MPF-TO, FUNAI e IBAMA para embargos definitivos de qualquer empreendimento no entorno do território Apinajé;

3-      Que o empreendedor faça a recuperação florestal das áreas desmatadas;

4-      A criação de Grupo de Trabalho GT pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas-FUNAI, para retomada do Processo de levantamento fundiário da referida área reivindicada pelo povo Apinajé;

5-      Que a FUNAI cumpra a Decisão Judicial de Justiça Federal que determinou a demarcação da terra Apinajé em 2 anos.



Terra Indígena Apinajé, novembro de 2024

Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ              

MOVIMENTO INDÍGENA

  Reunidas no MS, lideranças indígenas de todo o Brasil cobram fim da mesa de conciliação no STF e derrubada da lei 14.701 Em território Gua...