HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA: DESTRUIÇÃO DE CULTURAS INDÍGENAS E
TRADICIONAIS
As violações de direitos indígenas e direitos humanos se repetem nas três
Bacias hidrográficas do Tocantins-Araguaia, Xingu e Tapajós
Participantes do Seminário em Tocantínia-TO. (foto: Odair Giraldin. Out/16) |
Em reunião na cidade de Tocantínia/TO,
realizada nos dias 13 e 14 de outubro de 2016, constatamos que as mesmas
violações aos direitos dos povos indígenas, agravando a situação de desrespeito
aos seus modos de vida tradicional e gestão territorial nas três bacias
hidrográficas Amazônicas: Tapajós, do Xingu e do Araguaia-Tocantins, em relação
ao processo de implantação das hidrelétricas de Teles Pires, Belo Monte,
Estreito e de Lajeado, pelos consórcios Constran-UTC UHE (São Manoel do Tapajós),
Norte Energia (Belo Monte), Investco (Lajeado), Teles Pires Energia Eficiente,
CESTE (Estreito).
Para nós Povos Indígenas, não
existe forma de compensação possível para compensar a perda da cultura e do modo
de vida tradicional indígena, comprometendo o futuro dos nossos filhos e netos.
As consultas não têm sido
realizadas. A Convenção 169 da OIT tem sido desrespeitada, ou seja, não tem
sido feita de forma livre, prévia e informada, nas línguas indígenas, no tempo
apropriado das aldeias e com a participação das comunidades. Os povos Kayabi,
Xerente, Krahô, Apinajé e Juruna denunciaram que simples reuniões para
conversas, foram utilizadas como processo de consulta pelas empresas, e como
“autorizações” como licença prévia para o inicio da construção das
hidrelétricas.
Como se não bastasse a forma
desrespeitosa de “consulta”, utilizada
como autorização para inicio da construção das obras, ferindo direitos
fundamentais, o processo que continua desde a consulta, da elaboração do
Programa Básico Ambiental (PBA), e as formas de compensações para comunidades
impactados pelas hidrelétricas segue desastroso
para o nosso modo de vida tradicional. A forma de compensação está gerando mais
impactos negativos do que a própria obra em si.
Lideranças do povo Xerente. (foto: Odair Giraldin. Out/16)
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Além de sofrer estes impactos,
ainda pagamos a conta de luz mais cara do Brasil. Tendo em vista a devastação de
nosso modo de vida tradicional, não apenas causados pelas hidrelétricas que
impactam nossos territórios indígenas, mas também pela forma de compensação que
tem sido praticada, demandamos:
1.Que
sejam canceladas as hidrelétricas planejadas ou em qualquer fase de implantação,
que impactem os territórios e Povos Indígenas;
2. Que
os diversos povos indígenas e comunidades tradicionais se unam para resistir a
estes empreendimentos e possam apontar outro modelo de desenvolvimento e de
geração de energia para o país. Que seja desenvolvido pesquisa e concedido
incentivos para geração de eletricidade por outras fontes que não sejam somente
hidrelétricas;
3. Que
nossa voz seja somada aos dos cientistas, pesquisadores e que a sociedade
discuta este modelo de desenvolvimento baseado em grandes empreendimentos de
infraestrutura que destroem, além de nossos modos de vida tradicional, esta
destruindo também grande parte da Amazônia e do Cerrado. Ressaltamos que esses
biomas ainda estão em pé, em grande parte por conta da luta de povos indígenas
e comunidades tradicionais;
4. O
fortalecimento e união entre os indígenas, a sociedade civil e academia e para
que juntos possamos demandar a
participação no planejamento da politica energética do país, através de
representantes indígenas no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE[1]);
5. A
degradação do meio ambiente causada pelos empreendimentos compromete a produção
dos nossos alimentos nos cultivos tradicionais, a pesca, gera a seca dos rios e
a falta da caça. Tais atividades causam o empobrecimento e compromete nossa
segurança alimentar e favorece o aparecimento de doenças como diabetes, pressão
alta e outras enfermidades que ameaçam nosso povo pelo consumo de alimentos
industrializados;
6. Todos
estes impactos são agravados ainda mais pelos efeitos das mudanças climáticas
globais que os territórios indígenas estão enfrentando;
7. Que
a consulta em relação a qualquer empreendimento que cause qualquer impacto,
direta ou indiretamente, em nossas terras, seja feita de maneira livre, prévia
e informada, de acordo com as orientações de cada comunidade e ainda,
respeitando aos artigos previstos na Convenção 169 da Organização Internacional
do Trabalho (OIT).
8. Que
quaisquer pesquisas de diagnósticos e levantamentos das informações iniciais
sejam realizadas com nosso consentimento e nossa participação, que tenhamos
conhecimento dos resultados e que possamos acompanhar os levantamentos e
pesquisas quando estas forem realizadas em Terras Indígenas;
9. Que
haja o cumprimento da legislação brasileira e internacional, por exemplo, a
obrigação de estudos e relatórios de impacto ambiental (EIA/RIMA) e observação a
Convenção 169 da OIT em relação a todos os projetos impactantes aos povos
indígenas;
10. Que
violações e erros sejam evitados em projetos de usinas hidrelétricas em
planejamento, em estudo, em fase de
consulta bem como em outros grandes empreendimentos que impactem Terras
Indígenas (mineração, hidrovia, estradas, agronegócio e outros);
11. Que
os congressistas ARQUIVEM imediatamente as propostas legislativas contendo ataques
aos direitos duramente conquistados pela sociedade brasileira e povos
indígenas, em particular:
a. Proposta
de Emenda Constitucional (PEC) 215 e o Projeto 1610, que abre as terras
indígenas para a exploração da mineração, dentre outros que ameaçam direitos
constitucionais
b. PEC
65/2012, que flexibiliza o processo de licenciamento ambiental e retira a
possibilidade de participação da sociedade no processo.
Assinam os Povos
Indígenas: XERENTE, APINAJÉ, KRAHÔ, KAYABI E JURUNA
Apoiam esta
carta:
ADRIANA
BATISTA CASTORINO
CAIO
BRETTAS
ELINEIDE
MARQUES
ESTHER
MIRIAN CARDOSO MESQUITA
HEBER
ROGÉRIO GRACIO
JULIANA
LAUFER
LIGIA
RAQUEL SOARES
MONISE
VIEIRA BUSQUETS
ODAIR
GIRALDIN
PAULA
FRANCO MOREIRA
SIMONE
ATHAYDE
SYLVIA SALLA SETUBAL
MARTA KARAJA
ITIANE FERREIRA PEREIRA
EDER JOFRE ALVES WANZELER
SHEILLINY OLIVEIRA SILVA
LILIANE PEREIRA RIBEIRO
MARCELO RIBEIRO COSTA
SAMUEL CROMWELL EDUARDO E SOUSA
SAULO CESAR AGUIAR DA SILVA
JHONATA NASCIMENTO FERREIRA
JHON LENNON CONCEICAO DOS SANTOS
RAILAINE FLORENCIO DE SOUSA
LUANE RIBEIRO GOMES
VICTORINA BISPO AIRES
RÍZIA ASSUNCAO ARAUJO
LENY CRISTINA REGO RODRIGUES
DÉBORA DOS SANTOS PEREIRA
FABIANE SOUSA SARGIO
[1][1] Até hoje os
assentos para representantes da sociedade civil e para academia não foram
integrados ao conselho.
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