O CERRADO EM TRANSE E A DANÇA DO FOGO
Brigadistas Indígenas do PREV FOGO fazem combate direto à noite. (foto: Brif/Apinaje. Agosto de 2015) |
O
mato e o capim seco, a baixa umidade do ar, o aumento da temperatura global e o vento
forte são fatores determinantes para propagação do fogo. Entre os dias 04 a 20
de agosto as ocorrências de incêndios se multiplicaram na terra Apinajé. Nesse
período chegamos a uma situação bastante crítica em que os focos de
incêndios ficaram totalmente fora de controle.
Até o
momento centenas de hectares de campos e florestas já foram destruídos pelo fogo
implacável. A natureza, antes alegre, colorida, perfumada e cheia de vida, agora encontra
se reduzida e transformada em carvão, pó e cinzas. Nessas condições, os animais
mamíferos, os répteis e as aves estão fugindo ou morrendo queimados. Algumas
espécies em fuga abandonaram seus ninhos e, os filhotes pequenos que acabaram sendo consumidos pelo fogo. A natureza agoniza e nas aldeias o povo
sofre as consequências.
Brigadista observa local queimado, (foto: Brif. Apinajé. Agosto de 2015) |
No
último dia 16/08/15, duas casas em uma aldeia, na terra Apinajé, próximo à
Tocantinópolis foram destruídas. Em circunstâncias parecidas, em setembro de
2010 um incêndio de grandes proporções e fora de controle também queimou casas
em outra aldeia Apinajé. Essas ocorrências sempre causam prejuízos, transtornos
e angústia para comunidade indígena. Felizmente, depois de quase dois meses sem chuva, essa semana o céu voltou a ficar nublado e promete chuvas para os próximos dias.
Todos
os anos a população não-indígena moradores das vilas, povoados e cidades
vizinhas da terra Apinajé, também sentem as consequências das queimadas. Os prejuízos materiais e danos ambientais são repetitivos,
cada vez mais frequentes e maiores.
Esquadrão Apinajé durante atividades de campo. (foto: Brif Apinajé. Agosto de 2015) |
As
queimadas também afetam a saúde da população. A fumaça e a fuligem provocam dores
e irritação nos olhos, cansaço, dor de cabeça, mal estar, tontura e doenças
respiratórias. Especialmente os recém-nascidos e idosos são as maiores vítimas.
Os incêndios sem controle em grandes áreas de cerrado ou nas florestas devem
ser classificados como sérios desastres ambientais e calamidades públicas e não
está dissociado das enchentes, das secas prolongadas e das crises hídricas.
Esses
desastres ambientais são implicações das Mudanças Climáticas que estão afetando
também o Brasil. Infelizmente a maioria da população ignora essa realidade. E o
governo brasileiro tem assumido posturas tímidas e ineficazes para enfrentar o
problema. No final das contas quem está pagando esse enorme custo ambiental
contraído pelos ricos, são os povos indígenas e as populações mais empobrecidas
do País.
Considerando
as peculiaridades culturais e ambientais de nossa região é necessário que as
Prefeituras de Tocantinópolis, Maurilândia, São Bento e Cachoeirinha, o Governo
do Estado do Tocantins e a União em parceria com as Comunidades Indígenas, Associações
de Moradores, STRs, Igrejas, Universidades, Empresas, Colônias de Pescadores, Quebradeiras
de Coco, Imprensa, Sindicatos Rurais e outros segmentos sociais se mobilizem para
discutirmos e elaborarmos um plano conjunto de prevenção e enfrentamento a esses
eventos climáticos.
Terra Apinaje, 26 de agosto de 2015
Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ
Nenhum comentário:
Postar um comentário