NOTA PÚBLICA DO POVO APINAJÉ, SOBRE OS JOGOS MUNDIAIS INDÍGENAS
Nós
caciques e lideranças Apinajé reunidos na VI Assembleia Ordinária da Associação
União das Aldeias Apinajé –Pempxà, realizada nos dias 17 a 21 de setembro do
corrente na aldeia Irepxi, no município de Tocantinópolis –TO, vimos à publico
manifestar nosso integral apoio ao Povo Krahô e a decisão desta etnia de não
participar dos JMI que serão realizados em Palmas (TO) no próximo mês de
outubro de 2015 com a participação de povos do Brasil e do Exterior.
Durante
nossa assembleia anual onde estiveram presentes mais de 70 caciques e
lideranças decidimos também debater e tomar decisões sobre esse assunto. Na ocasião
avaliamos que diante da atual crise econômica, da instabilidade política e das incertezas
e dúvidas que pairam sobre as cabeças dos povos indígenas não se justifica a
realização de eventos como os Jogos Mundiais Indígenas, onde serão investidos
R$ 160.000,00 (cento e sessenta milhões de reais) num momento em que os povos
indígenas passam por situações de dificuldades e violências nunca antes
verificadas na história de nosso País.
Citamos os casos de violências institucionalizadas praticadas pelo Estado
brasileiro, seja por participação direta dos Agentes do Estado, seja por
omissão deste. É inaceitável que nesse momento também esteja se repetindo
assassinatos, despejos, espancamentos, prisões e a criminalização das
lideranças indígenas com a participação e conivência dos Poderes Executivo,
Legislativo e judiciário.
Dessa forma
não podemos aceitar e participar de um evento de caráter midiático e
sensacionalista que tem por finalidade usar imagem dos povos indígenas para
distorcer os fatos e mentir no exterior; ocultando a verdadeira realidade e o sofrimento
dos povos indígenas do Brasil. Citamos a situação da falta de demarcação e
regularização dos territórios tradicionais reivindicados pelos povos Avá
Canoeiro, Guarani Kaiowá, Tupinambás, Pataxó, Canela e outros.
Verificamos
também o abandono e o sucateamento das estruturas de atendimento à saúde
indígena. Lembramos que nesse momento difícil de incertezas e insegurança centenas
de terras demarcadas e regularizadas também estão sendo invadidas e ameaçadas por
madeireiros, mineradoras, fazendeiros, arrendatários, extrativistas e
pescadores.
É lamentável que mesmo
diante dessa situação vergonhosa de violações de Direitos Indígenas até agora não
vimos nenhuma atitude do Governo e seu Ministério da Justiça no sentido de cumprir
à Constituição Federal vigente e ao menos dar condições para FUNAI monitorar,
fiscalizar e proteger as terras indígenas já demarcadas.
Declaramos que também
não aceitamos o uso indevido de nossa imagem e questionamos o apoio e a atenção
que outras etnias estão oferecendo a um evento patrocinado pelos governos
federal, estadual e municipal, com apoio da Ministra Katia Abreu uma inimiga
declarada dos povos indígenas.
Na contra mão do respeito, do bom senso e da
autodeterminação das populações indígenas, os idealizadores dos JMI também não
consultaram e nem convidaram ao menos os povos anfitriões do Estado do
Tocantins para participar da organização do JMI. Dessa maneira declaramos que
não vamos participar dos JMI que serão realizados em outubro na cidade de
Palmas (TO) e ao mesmo tempo convidamos outros povos a fazerem o mesmo.
No
entanto respeitamos a decisão e a vontade daqueles que decidiram participar.E
independe de participar ou não, nesse momento é importante fazermos uma
profunda reflexão e uma analise crítica da história e dos fatos recentes que
envolvem a questão e as lutas indígenas no Brasil.
Aldeia Irepxi, 21 de setembro de 2015
Associação União das Aldeias Apinajé-Pempxà
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