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Manifestações durante a abertura dos JMPI. (foto: Antônio Veríssimo. Out. 2015) |
Na abertura dos JMPI a presidenta foi muito vaiada e alertada, pelas
lideranças indígenas especialmente com relação à possibilidade de aprovação na Comissão
Especial da Câmara dos Deputados da PEC/215/2000 que altera as regras para
demarcação de terras indígenas e quilombolas.
Dito e feito, na noite de 27/10 no bojo e “no calor da grande festa”,
enquanto os povos indígenas celebravam em Palmas -TO a “união dos povos” nos
Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, os deputados federais de forma traiçoeira aproveitaram
para aprovar na Comissão Especial a famigerada PEC 215/2000. No final da semana
passada, no dia 23/10 os deputados já tinha tentado aprovar essa proposta.
Ressaltamos que essa manobra (digo malícia) política de setores
ruralista já era prevista. Eles tinham que inventar uma fórmula e armar uma
farsa para envolver e enganar os povos indígenas e quilombolas, e avançar com a
PEC 215/2000. A realização desses 1º Jogos Mundiais dos Povos Indígenas teve a
finalidade também de desfocar e esconder da imprensa independente e da sociedade
civil organizada os sérios conflitos fundiários e violações de Direitos Humanos
que estão ocorrendo no país.
Evidentemente os ruralistas conseguiram realizar e usar os 1º
Jogos Mundiais dos Povos Indígenas a serviço de suas ambições políticas e
econômicas de forma tão escandalosa e vergonhosa que no dia 23/10 a presidenta
Dilma Rousseff e sua comitiva antes de dirigirem se para vila olímpica para
abertura oficial do evento, estiveram primeiro reunidos com os
quatro governadores dos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia para
discutir a verdadeira pauta que os interessa; a implantação da Agencia de
“desenvolvimento” MATOPIBA nesses quatro estados.
Lamentavelmente algumas lideranças indígenas não se deram conta do
plano ardiloso desses setores inimigos, especialmente dos ruralistas que vivem
a mais de 500 anos roubando nossos territórios e agora estão se apropriando
indevidamente também das manifestações culturas indígenas com a finalidade de
fazer publicidade política, tratando as práticas e usos indígenas de forma
folclórica e carnavalesca; enfim um espetáculo para turista ver.
Entre os dias 23 a 27/10/15, quando estivemos em Palmas-TO, andando nas
ruas, praças, em rodas de conversas e na imprensa podemos ouvir e ler muitos
comentários e manifestações de intolerância e preconceito contra os indígenas participantes
dos JMPI. É indigno ver as culturas indígenas serem tratadas de maneira tão pejorativa
e desrespeitosa. A postura, os modos de se comportar, se vestir, se manifestar
e até as línguas indígenas às vezes viravam motivos de piadas e gozações para os
não-índios.
Nesse período verificamos também muitas reclamações de atitudes
abusivas e antidemocráticas de parte dos organizadores do evento que estariam
impedindo ou dificultando a entrada de alguns veículos da imprensa internacional
que pretendiam fazer a cobertura dos JMPI. Ouvimos relatos de jornalistas alemães
que seus colegas norte-americanos (jornalistas e fotógrafos) da Revista National Geographic foram
impedidos de acessar as dependências da vila olímpica.
Fica uma pergunta; o que tem de errado com essa vila olímpica que
a imprensa não pode mostrar? Talvez queiram exibir somente os indígenas submissos;
pintados e jogando nas diversas modalidades. Mas não querem que seja noticiada
nenhuma queixa ou reclamação sobre a desorganização e falhas estruturais do
local. Ou temem que a imprensa internacional mostre manifestações de
insurgências contra a PEC/215/2000 e outras violências que estão sendo
perpetradas contra as comunidades indígenas!
E agora meus parentes, depois que os ruralistas aprovaram a PEC
215/2000 a ficha caiu não é? Diante desse absurdo e dessa afronta contra a vida
das etnias indígenas e quilombolas do Brasil vão continuar jogando o jogo deles?
Quem está ganhando e quem está perdendo? Acorda meus irmãos não precisa se
humilhar e se rebaixar dessa forma para ganhar um benefício ou emprego no
governo. Até quando vão servir de
fantoches para serem usados politicamente dessa maneira? Lembrem se não podemos
trair e abandonar nossos compromissos, princípios e valores!
Os nossos povos Krahô e Apinajé boicotamos esses JMPI, de maneira
consciente e firme assumimos nossa posição critica em relação ao evento.
Ressaltamos que não somos contra o esporte, entendemos que o evento poderia ser
melhor e diferente se agente tivesse sido consultado e ouvido previamente. Mas,
não podemos participar de um evento idealizado pela ministra Katia Abreu, líder
de grupos políticos e econômicos que pretendem extinguir a FUNAI, que sempre
pregaram o ódio contra os índios e estão aprovando a PEC 215/2000. Dessa forma
só temos que repudiar com veemência essa farsa realizada para ocultar os assassinatos
e mascarar o genocídio das etnias indígenas do Brasil.
Espera aí, já que demostram tanto interesse pelas culturas
indígenas; por que não apoiam os eventos da cultura que acontecem nas aldeias?
Por que não apoiam as formas tradicionais dos povos indígenas plantarem e
produzir os próprios alimentos? Por que não incentivam a produção de
artesanatos, as cantorias outras manifestações culturais? A resposta é que esse
pessoal não querem saber de cultura indígena coisa nenhuma; o que querem mesmo são
as terras indígenas. Por isso ficam dizendo que “é muita terra pra pouco índio” e
aprovando contradições e retrocessos como a PEC 215/2000.
Ontem dia 28/10 quarta-feira no programa Brasil em Debate da TV
Câmara, o Deputado Federal Edmilson Rodrigues do PSOL - PA lembrou o caso da
Terra Indígena Raposa Serra do Sol em Roraima, em que sete grandes fazendeiros
queriam dominar um território onde vivem atualmente mais de 30 mil indígenas
das etnias Macuxi, Wapichana, Ingarikó e Patamona. Caso a área RSS não tivesse
sido regularizada e devolvida aos seus legítimos donos, isso sim seria uma
incoerência; “muita terra pra poucos fazendeiros”.
Considerando que já passamos 515 anos enfrentando essa violenta
ofensiva desses inimigos; agora também não vamos ficar de braços cruzados
diante dessa onda de ataques contra nossos direitos constitucionais. Junto com
alguns aliados e amigos vamos continuar a luta.
Terra
Indígena Apinajé, 29 de outubro de 2015
Associação União das Aldeias Apinajé-Pempxà