NOTA CONTRA A RETOMADA DO DESMATAMENTO NA FAZENDA GÓES PRÓXIMO À ALDEIA SÃO JOSÉ
Área de nascentes desmatada na Fazenda Góes. (foto: Alexandre Conde. Setembro de 2023) |
O
desmatamento na Fazenda Góes foi iniciado em setembro de 2013, e na época
denunciamos o empreendimento à FUNAI e ao MPF-AGA e após manifestações e
protestos da comunidade indígena o desmatamento foi embargado em 2015. No
período entre 2015 e 2023 houve gradativa recuperação da área que havia sido desmatada,
mas as atividades de desmatamentos foram retomadas de forma repentina no início
de setembro de 2023. É preocupante que esse empreendimento esteja sendo
retomado de forma unilateral por iniciativa do proprietário sem informar nossas
organizações e comunidades.
Em setembro
de 2013 denunciamos esse desmatamento que ameaçava as nascentes de águas que
abastecem a aldeia São José e demais comunidades próximas. E desde então sempre
declaramos que não aceitamos e somos contra esse empreendimento na Fazenda Góes.
Mas agora o proprietário retomou e está levando a diante o empreendimento
podendo reacender conflitos como a comunidade.
Em 2013 a (então)
proprietária alegou que o Processo de Licenciamento para desmatar era “legal e
tudo dentro da lei”. Mas, devido as irregularidades constatadas o MPF-AGA pediu
a anulação da Licença emitida pelo Instituto Natureza do Tocantins-NATURATINS e
as atividades foram embargadas.
Lembrando
que essa área é parte de nosso território tradicional e no momento tramita na
FUNAI/Brasília, um Processo de regularização fundiária dessa parte do nossa
terra que falta ser demarcada e regularizada pela FUNAI. Ainda existe Decisão
Judicial de 2022, tramitando na Justiça Federal de Araguaína, que manda a
União/FUNAI demarcar nossa terra no prazo de dois anos. Esperamos que essa
questão seja logo resolvida pelas autoridades competentes para evitar a
continuidades dessas atividades ilegais que prejudicam o Meio Ambiente, geram
disputas territoriais, conflitos e animosidades em toda a região. Queremos viver
em Paz!
Portanto repudiamos e protestamos contra esse empreendimento que ameaça e afeta diretamente nosso território e nossa população. Alertamos que nossas nascentes de águas podem ser envenenadas pelas herbicidas e/ou agrotóxicos usados nas plantações de soja, milho ou eucaliptos. Até o momento temos dúvidas e não sabemos o que vai ser plantando na área desmatada, pois não foram realizados Estudos de Impactos Ambiental-EIA/RIMA e nenhum Documento ou Relatório foram emitidos para prévia análise dos órgãos ambientais. Em 2013 a FUNAI disse que não foi informada e ficou de fora do Processo de Licenciamento conduzido pelo NATURATINS.
Desmatamento na fazenda Góes divisa da T.I. Apinajé em Tocantinópolis. (foto: Alexandre Conde. Setembro de 2023) |
Então surgem
muitas dúvidas e questionamentos sobre quais os critérios Técnicos que o
NATURATINS usa ou adota para emitir tais “Licenças” para desmatar áreas
próximos às terras indígenas demarcadas e homologadas ou dentro de uma terra
indígena em Processo de regularização fundiária. Ressaltamos que neste caso,
uma Licença Ambiental emitida dessa forma pode gerar divergências e conflitos
socioambientais entre os fazendeiros e a comunidade Apinajé. Até o momento
temos dúvidas e não sabemos ainda se foram emitidas alguma Licença ou
autorização para retomada das atividades na Fazenda Góes. Se não foi dada
nenhuma autorização ou Licença para desmatar, o empreendimento está ilegal. Mas,
de qualquer forma pedimos a imediata anulação da Licença e o embargo definitivo do empreendimento em questão.
Diante dos
fatos alertamos a FUNAI, MPF-TO, PF e os demais Órgãos de Segurança Pública
envolvidos sobre eminente riscos de conflitos com o povo Apinajé. Avisamos que
pelo fato das atividades estarem acontecendo próximo às aldeias existe sérias
implicações e impactos direto na vida da coletividade Apinajé; pois não fomos ouvidos (consultados) e não concordamos com esse empreendimento invasivo e ilegal. Denunciamos a postura conflituosa e
intransigente do “proprietário (as)” que mesmo ciente dessas implicações e
discordâncias da população Apinajé; insiste em levar a diante o empreendimento de qualquer jeito.
Terra Indígena Apinajé, 18 de setembro de 2023
Associação
União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ
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