Neste
02 de maio de 2016 fez dois anos que o grande profeta Dom Tomás Balduíno nos
deixou. No velório na cidade de Goiás-GO estavam presentes seus amigos e
companheiros representantes das entidades camponesas, trabalhadores (as) rurais
e urbanos e lideranças dos povos Apinajé, Krahô, Xerente, Carajá Xambioá do
Estado de Tocantins e Tapuia de Goiás, que representaram os demais povos
indígenas brasileiros; pelos quais lutou intensamente e dedicou a maior parte
de sua existência terrena.
Em
seu tempo Dom Tomás Balduíno foi um ser humano sábio justo e sensato que fez
opção pelos povos mais necessitados e oprimidos do país. Mas Dom Tomás também foi
um cidadão brasileiro de atitude que cumpriu politicamente seu ministério, que não
se omitiu e nem se calou diante da injustiça e da violência. Na década de 70 em
plena ditadura militar junto com outros religiosos ajudou fundar a CPT e o CIMI,
pastorais sociais que atuam até hoje junto aos camponeses e indígenas do Brasil.
A
nossa gratidão a esse benfeitor da humanidade que foi Dom Tomás Balduíno uma
pessoa extremamente sensível e humana que se lembrou e se preocupou; dedicando sua
vida missionária especialmente em favor dos povos da Amazônia, do Cerrado e do
semi-árido brasileiro, populações que até os dias de hoje são consideradas atrasadas
e invisíveis pela sociedade dominante e literalmente abandonadas pelo Estado
brasileiro.
Nos anos 60, 70 e 80, época crítica e
turbulenta da vida brasileira, Dom Tomás não se perturbou e nem se intimidou diante
da arrogância, da prepotência e da tirania dos latifundiários e militares
protagonistas do golpe militar de 64. De forma convicta e ajuizada ajudou
denunciar a nível internacional os abusos da ditadura militar e o plano do
Estado brasileiro de promover novas frentes de conquistas, dominando e
integrando a força as minorias indígenas sobreviventes de mais de 500 anos de
massacres.
Em sua
trajetória militante, Dom Tomás nunca se curvou e soube denunciar com grandeza
e sabedoria essa violência e intolerância dos ditos “poderosos” de ontem; que infelizmente persiste até os dias de hoje. Nos momentos difíceis sempre fez uso do verbo profético
para argumentar em favor dos direitos e valores da pessoa humana, em defesa da
pluralidade étnica e da diversidade cultural brasileira. Enfim, viveu e cumpriu
sua jornada espiritual e missionária em prol da dignidade dos homens, mulheres,
crianças e idosos, por liberdade e justiça, contra a opressão e a exploração do
homem pelo homem.
Junto com o CIMI e a CPT, Dom Tomás também se
dedicou e lutou contra invasão e a exploração desordenada da Amazônia e do
Cerrado pelas grandes empresas do agronegócio, pelas hidrelétricas, as mineradoras
e madeireiras. Consciente dos graves problemas sociais e ambientais do Brasil,
sempre cobrou do governo brasileiro a demarcação das terras indígenas e a
efetivação da reforma agrária. De forma contundente sempre denunciou os massacres
de indígenas, quilombolas e camponeses, a exploração e escravidão dos
trabalhadores (as) rurais e urbanos e criticou a corrupção em todos os níveis.
Esse
o testemunho e o exemplo de vida que Dom Tomás Balduíno viveu e deixou para
nossa geração. Esses são princípios e valores que devem ser constantemente
adubados e regados para crescerem se desenvolverem nas consciências, na vida e
na história dos indivíduos, das famílias, das comunidades e da sociedade. A
caminhada profética de Dom Tomás Balduíno, na terra que ele tanto amou, imprimiu
rastros de solidariedade, humildade, simplicidade, sabedoria e amor ao próximo.
Um exemplo de vida a ser eternamente lembrado e seguido por todos nós.
Terra Indígena
Apinajé, 04 de maio de 2016
Associação União das Aldeias Apinajé - Pempxà
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