DOCUMENTO FINAL: VII
ASSEMBLEIA DA UNIÃO DAS ALDEIAS APINAJÉ-PEMPXÀ
Plenária da VII Assembleia da Associação Pempxà. (foto: Vanderlei Apinagé. Out. de 2016)
Entre os dias 05 a 09 de outubro de
2016 estivemos reunidos na aldeia Recanto, Terra Indígena Apinajé, no município
de Tocantinópolis-TO, na VII Assembleia Ordinária da Associação União das
Aldeias Apinajé-Pempxà, que teve expressiva participação de caciques,
lideranças, mulheres, professores, estudantes, anciãos, conselheiros e demais
lideranças do povo Apinajé. Ao menos 150 pessoas participaram da Assembléia.
Nesta Assembléia debatemos
especialmente sobre as questões do território Apinajé, que continua invadido e
depredado por invasores não-Índios. Ainda manifestamos preocupação com a
degradação ambiental das áreas limítrofes do entorno desta T.I. que estão sendo
desmatados para plantio de eucaliptos, formação de pastagens e implantação de carvoarias,
gerando impactos diretos sobre as nascentes e mananciais de águas da T.I.
Apinajé.
Ao analisarmos a conjuntura da política
indigenista do país, no governo Michel Temer; novamente apontamos às condições
de abandono e sucateamento da FUNAI/sede em Brasília, situação que se estende a
todas as CRs e CTLs espalhadas pelo país. Percebemos que essa atitude do
governo federal demonstra total falta de compromisso, e omissão diante das
responsabilidades e deveres constitucionais da União de demarcar, fiscalizar e
proteger as terras indígenas.
Percebemos que de forma intencional e irresponsável
o governo federal vem cortando recursos da FUNAI/sede, deixando as terras
indígenas totalmente desprotegidas e as comunidades inseguras. Agindo assim o
governo dar “carta branca” e incentivos políticos para madeireiros, grileiros,
pescadores, caçadores, arrendatários, garimpeiros e outros continuarem invadindo
e roubando nossas terras. Nesse contexto o agravamento de conflitos entre os povos
indígenas e esses invasores é inevitável.
Continuando a mesma política perversa
de governos anteriores, o presidente Michel Temer quando discursa em eventos no
exterior apresenta falsos relatórios e dados inverídicos sobre a situação dos direitos
dos povos indígenas no Brasil. Também descreve dados fantasiosos e românticos
sobre a redução das queimadas, e do desmatamento da Amazônia e do Cerrado. Mas,
a realidade que vivemos é de conflitos fundiários, desmatamentos, retrocessos
políticos, violações de direitos humanos, criminalização de lideranças, prisões
e ameaças de morte.
Nesse momento
consideramos o PDA/Matopiba o mais letal e ameaçador plano de intervenção na
vida das populações (indígenas, quilombolas, ribeirinhos e quebradeiras de
coco) que depende do bioma Cerrado para sobreviver, esse com certeza é parte da
proposta (entreguista) do governo de vender, alienar e arrendar as terras
brasileiras para as grandes empresas produtoras de grãos. Por outro lado o governo
também fala em afrouxar (leia se facilitar) as regras para Licenciamento
Ambiental. Isso significa que a ganância e a fome de lucro das multinacionais
do setor elétrico, dos ruralistas e das mineradoras nunca terão limites.
CONSULTA E PARTICIPAÇÃO: UMA QUESTÃO DE DIREITOS HUMANOS
Lideranças se manifestam na VII Assembleia. (foto: Vanderlei Apinagé. Out. de 2016) |
Já a Declaração das Nações Unidas Sobre os
Direitos dos Povos Indígenas, no Art. 18, recomenda: “Os povos indígenas têm direitos de participar da tomada de decisões
sobre questões que afetem seus direitos, por meio de representantes por eles
eleitos de acordo com seus próprios procedimentos, assim como de manter e
desenvolver suas próprias instituições de tomadas de decisões”. Tanto a Declaração das Nações
Unidas, como a Convenção 169 da OIT, também adverte que os governos deverão: “consultar os Povos Indígenas, mediante
procedimentos apropriados e, particularmente, através de suas instituições
representativas, cada vez que sejam previstas medidas legislativas ou
administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente”
De acordo com esses preceitos e normas estabelecidas
na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho - OIT, durante nossa assembleia também debatemos sobre
nosso direito de ser ouvidos e consultados, de forma livre prévia e informada, quando
os kupẽ (não-índios) desejarem desenvolver qualquer ação
ou projeto dentro ou no entorno de nosso território, e ainda sobre pedidos e
autorizações para entrada de pesquisadores, religiosos e outros (não-índios) para
atuar em nossas aldeias.
Em razão da total ausência de
Fiscalização da T.I. Apinajé, pedimos urgência à FUNAI/CGLIc na conclusão do
processo de transição do PBA Timbira, e a imediata assinatura do Termo de Compromisso
com o CESTE. Estamos dependendo da conclusão desse processo para iniciar a
execução de nosso Plano Permanente de Segurança e Monitoramento Territorial.
Desta forma destacamos os seguintes
encaminhamentos: 1) Realizar uma reunião interna de caciques na aldeia São José,
nos dias 15 e 16/10/16, para conclusão do Plano de Trabalho PBA Timbira 2016/17.
2) Elaborar e encaminhar ofício à FUNAI/sede com a decisão dos caciques sobre a
regularização fundiária da área Apinajé II; Incluindo a “Caverna do Morcego” 3)
Elaborar uma proposta do povo Apinajé para a próxima gestão municipal do Prefeito
eleito Paulinho do Bonifácio, período 2017/2020. 4) Ficou decidido também realizar uma próxima
reunião de caciques para discutir e elaborar um Protocolo de Consulta interna a
ser seguido por todos os caciques. 5) Finalmente ficou acordado que de agora em
diante quando se desejar implantar, ou construir qualquer empreendimento, ou
implementar projetos, bem como autorizar a entrada de não-índios; religiosos, pesquisadores
e outros, devem ser ouvidas e consultadas nossas organizações representativas; caciques,
conselhos deliberativo e consultivo. A Funai/local também deverá ser informada.
Durante os (05) cinco dias da
assembléia, além dos assuntos relacionados ao território Apinajé, à política
indigenista brasileira, e ao PBA Timbira. Debatemos ainda sobre a questão da
saúde, educação e eleições 2016. A VIII Assembléia Ordinária e Eletiva da União
das Aldeias Apinajé-Pempxà, está prevista para acontecer no período de 18 a 21
de setembro de 2017, na aldeia São José.
Aldeia Recanto,TI. Apinajé 10 de outubro de 2016
Associação União das Aldeias
Apinajé-Pempxà
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