CARTA DOS POVOS INDÍGENAS DE TOCANTINS, PARÁ E AMAPÁ
Representantes dos povos Munduruku, Tembé e Juruna do Pará (foto: arq. PEMPXÀ) |
Em nossas lutas pelas demarcações de
nossas terras, que foram roubadas. Pela melhoria do atendimento à saúde. E por
uma educação diferenciada e de qualidade, às vezes não somos bem recebidos e
tratados com respeito nos órgãos públicos. O que estamos percebendo é a clara
intensão desses grupos sistematizados e organizados dentro das instituições
públicas, e nos três poderes da República, de levarem a diante essa campanha de
ódio e discriminação, contra nossos povos, historicamente vitimados por violências
e massacres, que infelizmente continuam ocorrendo.
É assustador as avalanches de medidas e
propostas que ora estão sendo discutidas e emitidas pelos poderes legislativo e
executivo com objetivo de tirar e restringir nossos direitos que foram
conquistados e estão garantidos na Constituição Federal de 1988, exemplos são
as PECs 038 que tramita no Senado Federal e 215 que tramita na Câmara dos
Deputados. Outra medida inaceitável é a portaria 303, da Advocacia Geral da
União-AGU, que foi emitida no dia 16 de julho de 2012, que propõem entre outros
absurdos mudar as leis e alterar a própria Constituição Federal, com a
finalidade de prejudicar as comunidades indígenas em favor dos interesses dos
latifundiários, mineradoras, madeireiros e outros invasores (e) interessados em
nossas terras.
Repudiamos essa política irresponsável e
equivocada de construções de grandes hidrelétricas que estão em andamento e destruindo
especialmente os rios da Amazônia, fatos que tem expulsado populações indígenas
e ribeirinhas de suas terras e prejudicado o meio ambiente, como um todo. Dessa
forma manifestamos nossas contrariedades e repúdio contra a ELETRONORTE e o
Consorcio Norte Energia, que é responsável pela construção da UHE de Belo Monte
no rio Xingu, no município de Altamira.
Queremos deixar bem claro, que somos contra os projetos de construção das UHE
de Santa Isabel no rio Araguaia, localizada no município de São Geraldo do
Araguaia, que ameaça as terras indígenas Sororó do povo Aikewara, Apinajé do
povo Apinajé e Las Casas do povo Kaiapó e os projetos UHEs de Marabá e Serra Quebrada
no rio Tocantins, que ameaçam diretamente a área Apinajé, localizada nos
municípios de Tocantinópolis, Maurilandia, São Bento do Tocantins e Cachoeirinha
no norte do Tocantins e Krikatí, no estado do Maranhão, e os projetos dos UHEs
de São Luís, Jamanxim e Jatobá no município de Itaítuba e UHE de Jacurão no
município de Jacareacanga, estado do Pará.
Liderança Krahô, fala aos participantes no 1º Encontro Macro-Regional (foto: Arq. PEMPXÀ) |
É
incompreensível a teimosia do governo em construir a UHE de Belo Monte, obra
polêmica que está sendo construída com financiamento
do BNDES-Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social; o que significa que o dinheiro público está sendo usado
para destruir o meio ambiente e prejudicar as populações indígenas e
ribeirinhos da região do Médio Xingú. Avisamos e alertamos os governos e
empreendedores, que não aceitamos a entrada de pessoas ou empresas em nossas
terras, com objetivo de fazer estudos ou pesquisas, dando viabilidade a essas
obras. E que não concordamos com a construção de barragens que prejudicam
direta e indiretamente nossos territórios. E sugerimos que os governos e
empresas do setor elétrico busquem novas alternativas de geração de energia.
Denunciamos o avanço acelerado e sem
controle das monoculturas de eucaliptos, cana de açúcar e soja, que estão
ocorrendo sem nenhuma fiscalização nas proximidades e entorno das terras
indígenas Krahô, Xerente e Apinajé, no estado do Tocantins. Essas atividades estão
poluindo o meio ambiente, envenenando os rios e prejudicando a saúde nas
aldeias. Exigimos que os órgãos públicos MPF-TO e PA, FUNAI, NATURATINS e SEMA-PA
adotem medidas cabíveis para frear essas atividades que são extremamente
poluidoras e estão degradando o meio ambiente ao redor das áreas indígenas.
Enquanto o PAC acelera com seus projetos
contra nossas populações, a saúde indígena continua lenta, precária e
sucateada. Depois de quase dois anos de transição da FUNASA para SESAI, o Governo
Federal ainda não conseguiu melhorar o atendimento nas aldeias, as lideranças
reclamam da falta de estruturas e recursos humanos. As comunidades sofrem com a
falta de remédios, médicos, dentistas, transportes e comunicações.
Informamos que somos contra as atividades
de mineração dentro e nas proximidades de nossos territórios. E denunciamos a
DOW CORNING que atua próximo a Terra Indígena Sororó, do povo Aikewara, no
município de São Geraldo do Araguaia, e a empresa MAX BRITA INDÚSTRIA, próximo
à terra indígena Guajajara, no município de Itupiranga no Estado do Pará
.
Manifestamos
nossa solidariedade e apoio, aos povos Guarani, do estado do Mato Grosso do Sul
e Awá-Canoeiro no estado de Tocantins, que sofrem numa luta que parece não ter
fim, em busca de suas terras roubadas e alienadas pelos fazendeiros, plantadores
de cana, eucaliptos e soja. A situação do povo Guarani é de extrema gravidade, por
que estão sendo sumariamente massacrados e mortos pelo agronegócio, que promove
o terror e espalha a violência contra esse povo. Oprimidos e sem terra, os
Guarani sobrevivem em acampamentos nas margens das rodovias e frequentemente
são vitimas das ações da polícia, jagunços e pistoleiros, que a mando dos latifundiários,
políticos e alguns juízes; sequestram, expulsam, despejam e matam o povo Guarani.
Pedimos respeitosamente aos senhores
ministros do STF-Supremo Tribunal Federal, especial atenção no julgamento dos Embargos de Declaração da Terra
Indígena Raposa Serra do Sol, Petição 3.388/RR. Informamos que estamos atentos
e acompanhando, para que a CF-Constituição Federal do Brasil seja cumprida e
respeitada e nossos direitos não sejam ainda mais violados.
Aldeia Patizal,
Terra Indígena Apinajé, 30 de Outubro de 2012.
As lideranças e representantes
dos povos indígenas de Tocantins, Pará e Amapá:
Apinajé
Krahô
Xerente
Carajá
Xambioá
Awá-Canoeiro
Guarani
Aikewara
(Suruí)
Kaiapó
Munduruku
Tembé
Galibi
Maworno
Karipuna
Atikum
Guajajara
Guajajara
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