MATOPIBA:
CONFLITOS, RESISTÊNCIAS E NOVAS DINÂMICAS DE EXPANSÃO DO AGRONEGÓCIO NO BRASIL”
As mobilizações indígenas e camponesas iniciadas na 1º semana novembro de
2016 em órgãos públicos dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário em
Brasília-DF contra o PDA/Matopiba, continuaram nos dias 16 a 18 de novembro durante
o Seminário “Matopiba: conflitos, resistências e novas dinâmicas de expansão do
agronegócio no Brasil” realizado na sede da Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura-CONTAG.
O Seminário foi organizado
pela Comissão Pastoral da Terra – CPT e reuniu representantes de entidades e
organizações camponesas, indigenistas, trabalhadores rurais, pescadores, povos
indígenas, quilombolas, estudantes e professores universitários dos Estados de
Maranhão, Piauí, Bahia e Tocantins. O evento faz parte da Campanha Nacional em
Defesa do Cerrado lançada em agosto último na cidade de Goiás-GO. O lema da
Campanha é: SEM CERRADO, SEM ÁGUA, SEM VIDA.
Tivemos ainda a participação
de lideranças de organizações camponesas de Moçambique e uma ativista representante
da ONG Japan International Volunteer Center que atua junto aos povos daquele país
na luta contra os projetos de exploração mineral e do agronegócio praticados
pela mineradora Vale. Durante o Seminário nossos companheiros falaram da
resistência ao ProSavana e denunciaram os graves conflitos sociais e ambientais
na região conhecida como “Corredor de Nacala” e suas implicações negativas na
vida dos camponeses de Moçambique.
Igualmente os representantes
de organizações camponesas do Brasil relataram problemas semelhantes
resultantes das atividades da pecuária, do desmatamento para produção de grãos,
das plantações de eucaliptos e carvoarias que estão se intensificando na região
do Cerrado brasileiro desde a década de 60.
Alegando um suposto
“desenvolvimento”, seguidos governos vêm impondo a qualquer custo grandes obras
de infra-estrutura a maioria de forma totalmente ilegal; sem Estudos de
Impactos Ambienta-EIA/RIMA e sem ouvir e consultar as populações prejudicadas.
Debatemos o papel das
grandes ferrovias e hidrovias financiadas e implantadas especialmente pela
empresa Vale para permitir o escoamento de minérios e grãos produzidos no
Cerrado. Observamos que não se priorizar o transporte de pessoas, mas sim de
matérias primas para exportação em larga escala.
Representantes dos
camponeses, indígenas e quilombolas denunciaram que a grilagem de terras,
continua sendo a prática recorrente no Brasil. Na maioria dos conflitos observa
se a corrupção de “Agentes do Poder Público” e a falsificação de documentos
como forma de “legalizar” os imóveis, assim os grileiros encontram respaldo
jurídico para despejar famílias, fazer prisão ilegal, espancar, matar e praticar
outras violências. A consolidação do PDA/Matopiba nos Estados de Maranhão,
Piauí, Bahia e Tocantins só veio agravar ainda mais os conflitos já existentes.
Os palestrantes alertaram que
as bacias hidrográficas dos rios São Francisco, Tocantins/Araguaia e Xingú
estão sendo violentamente degradados pelos desmatamentos, assoreamentos,
agrotóxicos, lixo e despejos de esgotos das cidades ribeirinhas. Concluímos que
precisamos reagir para enfrentar essa situação. Se nada for feito em breve
sofremos ainda mais com escassez e falta de água potável para o consumo humano.
Reafirmamos que a demarcação
das terras indígenas e quilombolas é a forma correta e justa de proteger os
mananciais hídricos, conservar as sementes crioulas e garantir a produção
diversa e saudável de alimentos; sem uso de venenos que prejudicam o meio
ambiente e a vidas das pessoas.
Finalmente, as organizações
camponesas presentes no Seminário reafirmaram compromissos de lutar juntos pela
garantia de nossos direitos territoriais seja no Cerrado e/ou na Savana, e convocamos
todos os ativistas e militantes das causas sociais, para engajamento e
Participa-Ação responsável (seja individual ou coletiva) em prol e em defesa
desses importantes biomas no Brasil e na África.
Esse Seminário propiciou importantes
diálogos, contatos e intercâmbios de informações entre povos camponeses do
Brasil e de Moçambique, servindo para articulação e fortalecimento de nossas
lutas comuns e confirmando que estamos unidos por fortes idéias e laços de
solidariedade, espiritualidade, saberes, cultura, modos de vidas e relações de equilíbrio,
harmonia e respeito aos direitos da Mãe Terra.
Terra Indígena Apinajé, 30 de novembro de 2016
Associação União das Aldeias Apinajé-Pempxà
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