Brasília, 18 de Novembro de 2016
Nós, Camponeses(as), Agricultores(as) Familiares, Povos Indígenas,
Quilombolas, Geraizeiros(as), Fundos e Fechos de Pasto, Pescadores(as),
Quebradeiras de Coco, pastorais sociais, entidades da
sociedade civil e apoiadores que participam da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, representantes de
comunidades camponesas de Moçambique, e ativista ambiental do Japão e
organizações brasileiras que participam da Campanha
Não ao ProSavana, reunidos no Seminário Nacional “MATOPIBA: conflitos,
resistências e novas dinâmicas de expansão do agronegócio no Brasil”, em
Brasília/DF, nos dias 16,17 e 18 de novembro de 2016, debatemos sobre a
Destruição do Cerrado e as consequências e impactos
para os Povos que aqui vivem.
O Bioma Cerrado, também conhecido como o Berço das Águas, mantém três
grandes aquíferos (Guarani, Bambuí e Urucuia) e é responsável pela formação e
alimentação de grandes rios do continente, como São Francisco, Tocantins e
Araguaia. Possui mais de 12.000 espécies de plantas (30% ameaçadas de
extinção); é o lar de metade das aves e dos répteis do Brasil e possui mais de
200 espécies de mamíferos.
Historicamente os povos indígenas e comunidades tradicionais
que habitam o Cerrado têm desenvolvido estratégias de convivência em harmonia
com a natureza, desempenhando o papel de Guardiões dessa Biodiversidade.
Diante da importância desse patrimônio para nossos
povos e comunidades, manifestamos nossa indignação com o quadro atual de
propostas de expansão do agronegócio para o Cerrado.
Políticas,
planos e projetos iniciados na década de 70, contando com grande volume de
investimentos nacional e internacional, assumem no momento a denominação de
Plano de Desenvolvimento Agropecuário do MATOPIBA (PDA MATOPIBA). Instituído
através do Decreto n. 8447, esta proposta nada mais é que a manutenção da velha
e contínua política desenvolvimentista promotora de violências, de degradação
ambiental, trabalho escravo e desigualdades sociais e econômicas do campo
brasileiro.
Cresce a pressão
sobre as terras tradicionalmente ocupadas gerando um intenso processo de
grilagem e processo de especulação fundiária aumentando os conflitos de terra.
Entre 2005 a 2014, do total de 11.338 localidades onde ocorreram conflitos no
campo brasileiro, 39% aconteceram no Cerrado.
Nos
últimos 10 anos os Estados do Tocantins, Maranhão e Bahia figuram entre os
Estados que forneceram o maior contingente de trabalhadores libertos e onde
ocorreu a maior incidência do trabalho escravo rural no Brasil.
Os depoimentos e denúncias das lideranças
camponesas mostraram um processo sistemático de violação de direitos humanos
com a desterritorialização de comunidades, desaparecimentos dos mananciais,
poluição das fontes de água para consumo humano pelo uso abusivo de agrotóxicos
nos monocultivos, degradação e poluição do solo, extinção de árvores e frutos
nativos importantes para a cultura alimentar da região, como pequi, buriti, bacuri
e bacaba, agravando o quadro de insegurança alimentar das comunidades.
Da mesma
forma, representantes dos movimentos camponesas de Moçambique informaram que
essa mesma lógica econômica baseada no modelo agroexportador também está
presente na África, através de investimentos do Brasil e do Japão no projeto
ProSavana, no corredor de Nacala,
desestruturando os modos de vida das comunidades.
Por isso, nós, participantes desse seminário manifestamos o nosso repúdio ao PDA MATOPIBA e o ProSavana, e afirmamos nosso posicionamento em defesa dos Povos do Cerrado Brasileiro e das comunidades camponesas do Corredor de Nacala em Moçambique, e exigimos:
·
Reforma Agrária e regularização dos Territórios
Indígenas, Quilombolas e das Comunidades Tradicionais;
·
Políticas públicas que garantam o fortalecimento da
agricultura familiar, baseado na Agroecologia, Soberania Alimentar e Desenvolvimento Territorial Sustentável dos
Povos e Comunidades Tradicionais, na lógica das práticas tradicionais;
·
Aprovação da PEC 504/2010 que altera
o § 4⁰ do artigo 225 da Constituição Federal para incluir o Cerrado e a
Caatinga entre os biomas considerados patrimônio nacional
·
Instituição da Moratória do
Cerrado para coibir o avanço dos monocultivos do agronegócio sobre as terras,
territórios, águas e povos do Cerrado
·
Cumprimento da Convenção 169 da
OIT que estabelece o direito à consulta prévia, livre e informada aos povos e
comunidades tradicionais sobre o PDA MATOPIBA
·
Respeito a soberania dos povos e
ao princípio de solidariedade Sul-Sul para a efetivação de um desenvolvimento
que contemple a identidade e interesses das comunidades camponesas do Corredor
de Nacala;
Conclamamos
a sociedade a se engajar na Campanha em Defesa do Cerrado - Berço das Águas:
Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida.
Que se ponha um fim à agressão e destruição deste bioma, o
mais antigo do planeta.
O Cerrado e seus Povos merecem cuidado e respeito.
Participam da Campanha em Defesa do Cerrado: Associação União
das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ, ActionAid CNBB/Pastorais Sociais – Agência 10envolvimento – APA/TO – ANQ -
AATR/BA – ABRA – APIB CPT – CONTAG – CIMI ––
CUT/GO CPP –– Cáritas Brasileira; CEBI – CESE – CEDAC - Coletivo de Fundos e Fechos de Pasto
do Oeste da Bahia – Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra do Distrito
Federal – CONAQ – FASE – FBSSAN - FETAET - FETAEMA - CONTRAF-BRASIL/FETRAF –
Gwatá/UEG –IBRACE – ISPN – Juventude Dominicana – MIQCB – MPP – MMC – MPA – MST
- MAB - MOPIC - SPM – Rede Cerrado ––– Redessan – Rede Social de Direitos Humanos
– Rede de Agroecologia do Maranhão - TIJUPA Via Campesina
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