DOCUMENTO FINAL DO ENCONTRO DE JOVENS APINAJÉ
O 1º Encontro de Jovens Apinajé foi realizado no período de 10 a 12 de julho de 2015 na aldeia
Mariazinha na terra Apinajé, no município de Tocantinópolis, Norte do Estado do
Tocantins. O Encontro teve a assessoria do Professor Aluísio Lins Leal da
Universidade Federal do Pará-UFPA e Sebastião Moreira missionário do Conselho
Indigenista Missionário-CIMI GO/TO.
No inicio do Encontro o professor Aluísio Lins Leal da UFPA
discorreu sobre a conjuntura política, econômica e social do Brasil. O Professor
enfatizou que o comportamento da sociedade contemporânea é orientado por um
sistema político e econômico cada vez mais perverso e competitivo, que
consequentemente estimula a exploração dos recursos naturais de forma
predatória, suscita a corrupção política e econômica e provoca graves violações
de direitos humanos.
Por outro lado os órgãos do Estado brasileiro responsáveis
pela efetivação das políticas públicas de Saúde, Educação, Moradias, Demarcação e
Proteção de Terras Indígenas nunca funcionam adequadamente para atender as demandas
das populações mais empobrecidas e exploradas do País. Como se não bastasse temos verificado inúmeras tentativas
de anular conquistas e desconstruir direitos dos povos.
Atualmente existem inúmeras propostas legislativas que tendem
suprimir direitos sociais já conquistados. A PEC 215/2000 é a mais conhecida e
propõem transferir do Poder Executivo para o Poder Legislativo (Congresso
Nacional) as prerrogativas de demarcar e garantir as terras indígenas,
quilombolas e das populações tradicionais. Dessa forma essa proposta
legislativa representa um grave retrocesso e o mais pervertido golpe contra os
Direitos Humanos após a Constituição de 1988. O exemplo do Código Florestal a
PEC 215/2000 também foi forjada para atender os interesses das bancada
ruralista e evangélica.
Preocupados com esses retrocessos e as graves violações de
Direitos Humanos que estão ocorrendo no Brasil nas últimas décadas, onde as
populações indígenas, os quilombolas e populações tradicionais encontram se encurraladas e pressionadas pelas grandes empresas. Sendo que por falta de
demarcação de terras muitos povos estão sendo literalmente empurrados para
miséria absoluta, pobreza extrema e vítimas das doenças, da fome, da intolerância racial
e da violência dos ruralistas.
Em 2014, especialmente no MatO Grosso do Sul, Bahia, Rio
Grande do Sul e Maranhão lideranças indígenas foram covardemente assassinadas ou
sofreram terríveis humilhações e perseguições por causa da luta para garantir
suas terras. Pelo mesmo motivo no resto do País, muitas lideranças estão sendo
presos, criminalizados e assassinados pela Polícia e jagunços a mando de madeireiros
e fazendeiros.
Nestes termos repudiamos com veemência o “Estado” de terror
instituído por políticos e setores vinculados ao agronegócio, as madeireiras e as
mineradoras que em nome da farsa do “desenvolvimento” e do lucro imediato estão
acelerando o desmatamento e a destruição de importantes biomas brasileiros
especialmente o Cerrado e a Amazônia, situação que vem agravando os incêndios
florestais, as secas prolongadas e as crises hídricas em todas as regiões do
Brasil.
Dessa forma rejeitamos também a construção de “grandes projetos
de desenvolvimento” como a Hidrovia Araguaia – Tocantins, as hidrelétricas de
Santa Isabel no Rio Araguaia, Marabá e Serra Quebrada no Rio Tocantins. Não
concordamos que esses empreendimentos sejam construídos em nossos rios, cujas
bacias hidrográficas estão sendo fortemente atingidas e alteradas por
construção de hidrelétricas, agrotóxicos e o desmatamento do Cerrado e da
Amazônia.
Denunciamos a proposta de implantação do MATOPIBA nos Estados
de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia que prevê uso dessa região de Cerrado
para plantio intensivo da soja, cana e eucaliptos. É inaceitável que essas práticas do
agronegócio, baseadas na violência, truculência, degradação ambiental e
escravidão continuem expulsando as populações indígenas, os quilombolas e os
ribeirinhos para margens das rodovias e favelas dos centros urbanos do País, com
conivência e apoio desse Governo. O Estado do Mato Grosso
do Sul é um retrato fiel dessa situação.
Consideramos absurda a proposta do Ministério da Saúde – MS de
criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena – INSI, que aponta para
privatização do atendimento à saúde indígena, contrariando os preceitos
constitucionais que diz que a “Saúde é um Direito de Todos e um Dever do Estado”.
Declaramos nosso total apoio e solidariedade aos povos Avá
Canoeiro do Estado de Tocantins e Guarani Kaiowá de Mato Grosso do Sul que
atualmente estão sendo condenados e forçados a viver fora de seus territórios
tradicional em situação de abandono e violência por falta terra demarcada para
construir suas aldeias, plantar e viver em paz. Lamentamos que por falta de
terra esses povos não têm sequer onde sepultar seus parentes de forma digna,contrariando
suas culturas, costumes e tradições.
Na manhã do dia 12/07/15 após avaliação os jovens e adolescentes
participantes sugeriram que seja realizado mais encontros como esse para articulação
do Movimento Indígena e a continuidade desse processo de aprendizado e formação.
O 1º Encontro dos Jovens Apinajé foi encerrado ao meio dia com almoço.
Aldeia
Mariazinha, 13 de julho de 2015
Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ
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