Tema: “A mercantilização da natureza e os impactos das mudanças climáticas: novos paradigmas e a reafirmação dos direitos indígenas"
Na mesa de debates: lideranças indígenas, quilombolas e trabalhadores rurais. (foto: Sara Sanches. CIMI/GOTO. Out. 2016) |
Diante de grandes desafios sociais, das incertezas e dificuldades
imposta pela situação da política indigenista brasileira, nos dias 20 e 21 de
outubro de 2016, participamos em Araguaína, no Norte do Estado do Tocantins, do
IV SEMINÁRIO: BEM VIVER INDÍGENA, que este ano debateu o tema: “A mercantilização da natureza e os impactos
das mudanças climáticas: novos paradigmas e a reafirmação dos direitos
indígenas”.
Na plenária: estudantes, professores ativistas sociais e indigenistas. (foto: Sara Sanches. CIMI/GOTO. Out. 2016) |
Na quinta-feira, 20/10 à noite, no Campus da Universidade Federal de
Tocantins – UFT na cidade de Araguaína durante a abertura do Seminário
aconteceu o lançamento do Relatório de Violência contra os Povos Indígenas - dados/2015.
Este documento elaborado e divulgado anualmente pelo Conselho Indigenista
Missionário – CIMI revela para sociedade nacional e internacional elementos e informações
atualizadas sobre as múltiplas formas de violências, abusos e agressões
praticadas contra os indivíduos, comunidades e Povos indígenas no Brasil.
O secretario adjunto do CIMI/Nacional, Cleber César Buzzato falou sobre
os retrocessos contra os direitos dos trabalhadores (reforma trabalhista),
previdenciária, cortes orçamentários para Programas Sociais e outros. Cleber lembrou
o pacote de maldades do governo (Temer) e destacou alguns instrumentos de ataque
dos ruralistas contra os direitos dos Povos indígenas:
a)
O PLS 654/14 que
facilita (e faz avançar) o processo de Licenciamento Ambiental;
b)
O PL 4059/12 que
promove (e facilita) a venda de terras para estrangeiros;
c)
O Marco Temporal;
d)
Negação ao direito de
acesso à Justiça;
e)
CPI da FUNAI e do
INCRA
A voz dos povos indígenas Apinajé, Krahô, Carajá Xambioá e Krahô-Kanela
se somaram à dos quilombolas, camponeses, dos estudantes acadêmicos e
professores presentes no evento. As exposições e depoimentos das lideranças
indígenas apontaram as graves ameaças e agressões contra os territórios e a
vida dos indígenas e quilombolas no Estado do Tocantins e no Brasil em razão do
avanço dos mega-projetos de “desenvolvimento” econômico.
Todos os participantes reiteraram manifestos incisivos contra a destruição
do Cerrado, da Amazônia e condenaram veementemente a intenção dos governos de
alienar (leia se entregar) o nosso (território) patrimônio ambiental e cultural
para pessoas (indivíduos) e empresas estrangeiras.
Ao mesmo tempo as lideranças indígenas alertaram que as nascentes e mananciais
localizados dentro e no entorno das terras Apinajé, Krahô, Xerente, Carajá
Xambioá e Krahô -Kanela que abastecem os rios Tocantins e Araguaia estão
secando em razão das (desenfreadas) atividades de desmatamentos para formação
de pastagens, plantio de soja, eucaliptos e implantação de carvoarias. A agressiva retirada de águas para irrigação
foi apontada diretamente como responsável pela seca dos rios Formoso e Javaés
afluentes do Araguaia.
O decreto presidencial 8447/2015 de 06 de maio de 2015 institui o
PDA/Matopiba. O Prof. Atamis Antônio Foschiera do
Campus da Universidade Federal de Tocantins-UFT de Porto Nacional-TO, observou
que o PDA/Matopiba, considerado última
fronteira agrícola do país foi “anulado” pelo Ministério da Agricultura,
mas na prática o projeto continua. O Prof. Atamis apresentou em PowerPoint
algumas noções aplicáveis (nesse caso) ao termo fronteira:
No Tocantins: placa convida investir no PDA/Matopiba. (foto:Internet)
|
• Na natureza não existe
fronteira (Limite), tudo é fluxo.
• Fronteiras geram fluxos antinaturais,
levando ao deslocamento desigual de matéria e energia;
• Produtos podem circular,
mas pessoas são controladas;
• Libera-se a passagem de energia e matéria, mas não do homem;
• Fronteiras são operadoras
de desigualdades;
• Fronteiras são rapinas ecológicas.
O nome Matopiba é o resultado das iniciais dos Estados do Maranhão,
Tocantins, Piaui e Bahia. PDA/Matopiba abrangerá
31 microrregiões, 337 municípios, totalizando uma área de 73.173.485 ha dos
quatro (04) Estados. O projeto “foi idealizado para classe média do setor rural,
com desenvolvimento e uso de alta tecnologia voltada às atividades agrícola e
pecuária”. O PDA/Matopiba ainda afetará (de forma negativa) 42 Unidades de
Conservação, 28 Terras Indígenas, 865 Assentamentos da Reforma Agrária e 34
Áreas Quilombolas.
Terra Indígena Apinajé, 24 de outubro de 2016
Associação União das Aldeias
Apinajé-Pempxà
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