Reunião
na PR-MPF-AGA debateu a situação das estradas vicinais de acesso às aldeias
Apinajé, nos municípios de Tocantinópolis, Maurilandia, São Bento do Tocantins e Cachoeirinha
Reunião no MPF-AGA na cidade de Araguaína. (foto: Antonio Veríssimo. Abril 2018) |
A reunião aconteceu no último dia 26 de abril de 2018 na
sede da Procuradoria da República na cidade de Araguaína e contou as presenças
dos senhores (as); Júlia Rossi de carvalho Sponchiado - Procuradora da
República, Paulo Gomes de Sousa - prefeito de Tocantinópolis, Túlio Parreira
Labre - representante da AGETO, Hélio Honório da Silva Júnior - assessor
jurídico do município de Tocantinópolis, João Batista Santos Filho -
coordenador da FUNAI/CTL de Tocantinópolis, Cézar Augusto Matos Souza - Superintendente
Substituto do DNIT, Leidimar Dias da Silva - Pastor, Cassiano Sotero Apinagé,
Diêgo Fernandes de Sousa e Antonio Veríssimo - lideranças do povo Apinagé.
Breve histórico das estradas na TI. Apinajé
Todos os anos as chuvas danificam as estradas vicinais da TI
Apinajé. A falta de manutenção e conservação dessas estradas vicinais, sempre
tem prejudicado as crianças (estudantes) das comunidades localizadas no entorno
da aldeia São José que ficam impedidas de frequentar aulas na Escola Estadual
Indígena Mãtyk. As demais estradas vicinais de acesso que ligam às aldeias
Palmeiras, Patizal e Irepxi à rodovia (transamazônica) BR 230, também ficam em
situação crítica e quase intransitáveis, dificultando até mesmo o atendimento à
saúde e outros serviços básicos necessários para população indígena.
O primeiro traçado da rodovia transamazônica construída em
1972 no governo militar, margeia a TI. Apinajé na parte Sudoeste num percurso
de aproximadamente 50 km. Já na região Noroeste a rodovia corta a TI., num percurso de 20 km.
Em 1997, o governo do Tocantins iniciou o serviços de terraplanagem para
pavimentação de trecho da rodovia entre o trevo da BR 230 e o povoado Veredão. Em razão de impactos socioambientais
verificados no território, e após denúncias e mobilização do povo Apinajé, na
época o MPF-TO, interpôs Ação Judicial alterando o traçado da referida rodovia.
Com a alteração no traçado da rodovia (transamazônica) BR
230, esse trecho da mesma foi desativado, passando para categoria de estrada
vicinal, servindo apenas às comunidades que encontra se em seu eixo e área de
abrangência, incluindo todas as comunidades localizadas no entorno da aldeia
São José, além das aldeias Patizal, Palmeiras, Irepxi e Cocalinho, essa última
localizada no município de Cachoeirinha.
Já a rodovia TO 126, liga Tocantinópolis aos demais
municípios do Norte do Estado, incluindo Maurilandia, Itaguatins e
Augustinópolis, e corta a TI num percurso de aproximadamente 45 km. Nesse
trajeto essa rodovia estadual serve às aldeias Mariazinha, Riachinho, Girassol,
Brejão, Botica, Mata Grande, Olho D’Água, Macaúba, Bonito e Barra do Dia. A
manutenção e conservação dessa rodovia é de responsabilidade e, está sendo
efetuado pela AGETO, porém a conservação das vicinais que ligam essa rodovia às
referidas aldeias localizadas em seu eixo nunca é assumida por nenhuma
prefeitura.
Após seguidas denúncias das lideranças Apinajé relatando a
situação das estradas vicinais da TI., a questão passou a ser tratada no âmbito
do MPF-AGA. Desta forma foi instaurado na PRM-MPF-TO o Inquérito Civil nº
1.36.001.000040/2014-47, com a finalidade de buscar uma solução para estradas vicinais
nos municípios de Tocantinópolis, Maurilandia, São Bento do Tocantins e
Cachoeirinha, no Norte do estado de Tocantins. Nesse período algumas reuniões
foram realizadas, no entanto verificamos que os problemas das estradas
persistem, o que motivou a Sra. Procuradora
da República, Júlia Rossi Carvalho Sponchiado, a convocar nova reunião para
continuar dialogando com os órgãos públicos sobre a questão.
Nesta reunião o senhor Prefeito de Tocantinópolis-TO, Paulo
Gomes de Sousa, alegou que a (antiga) BR 230 é uma rodovia federal, e dessa
forma continua sendo de responsabilidade do Governo Federal/DNIT, fazer a
manutenção da mesma. O chefe do poder Executivo de Tocantinópolis afirmou ainda
que seu município não pode assumir essa demanda das estradas da TI. Apinajé sozinho,
e solicitou a elaboração de um Termo de Ajustamento de Conduta tendo como
partes órgãos da administração pública federal, estadual e os municípios de
Tocantinópolis, Maurilandia, São Bento do Tocantins e Cachoeirinha.
As prefeituras de Maurilandia, São Bento e Cachoerinha foram
convidadas, mas não compareceram na reunião. Mesmo assim o prefeito de
Tocantinópolis, Paulo Gomes de Sousa, propôs que cada prefeito assumisse sua
parte e responsabilidade sobre as estradas de seu município. Conforme consta em
ata da reunião realizada no MPF-AGA, o ajuste proposto pelo município de
Tocantinópolis consiste na manutenção das estradas, da seguinte forma: ”O
Governo Federal/DNIT assumiria a conservação da antiga área destinada à
transamazônica, o Governo do Tocantins/AGETO, se responsabilizaria pela manutenção
da TO 126, e a manutenção das estradas vicinais que entremeiam as aldeias seria
responsabilidade dos municípios, na seguinte proporção: Cachoerinha 5%, São
Bento 20%, Maurilandia 20% e Tocantinópolis 55%. Que os trabalhos seriam
acompanhados por uma Comissão constituída por representantes dos municípios,
das lideranças Apinajé, FUNAI, DNIT e AGETO”.
Servidores da FUNAI, caminham em trecho desativado da BR 230, no município de Cachoeirinha - TO. (foto: Antonio Veríssimo. Janeiro 2018) |
Por sua vez, o senhor Cézar Augusto Matos Souza,
representante do DNIT, declarou que o órgão só pode atuar na área que
compreende o Sistema Nacional de Viação, é que a área da antiga transamazônica
não faz parte do Sistema Nacional de Viação. Na dúvida sobre a situação da antiga
transamazônica, a Sra. Procuradora afirmou que irá buscar informações sobre a
condição jurídica desse trecho da rodovia e notificou o DNIT, que deverá no
prazo de quinze (15) dias apresentar histórico do antiga área de forma a
descrever a natureza jurídica da rodovia no seu trajeto margeando e dentro da
TI. Apinajé.
As lideranças Apinajé reiteraram o fato das crianças estarem
impedidas de frequentar aulas por falta de estradas e cobraram uma ação
emergencial. O prefeito de Tocantinópolis informou que poderá recuperar as
estradas das aldeias Cocal Grande e Baixa Funda. Sobre a recuperação da estrada
da aldeia Palmeiras o prefeito de Tocantinópolis propôs que fique sob a responsabilidade
do município de Maurilandia e a manutenção do acesso à Patizal será efetuado
com o maquinário da AGETO, sendo que o combustível será disponibilizado pelos
municípios de Tocantinópolis e Maurilandia
na proporção de 50% para cada uma.
Neste jogo de empurra/empurra no qual nenhum órgão público
pretende assumir responsabilidades sobre as estradas vicinais das aldeias, quem
fica no prejuízo são as crianças. Hoje 15/05/18, até o momento do fechamento
dessa matéria, não tivemos notícias do cumprimento de algum acordo resultante desta
reunião. No entanto continuaremos mobilizados e cobrando nossos direitos.
Aldeia São José TI. Apinajé, 15 de maio de 2018
Associação
União das Aldeias Apinajé-Pempxà
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