Documento final da Assembleia dos Povos Indígenas de Tocantins
Participantes da Assembleia dos Povos Indígenas de Tocantins. (foto: Pempxa. Dez. 2018) |
Na abertura da Assembleia lembramos nossos mártires, lutadores e lutadoras que morreram na esperança de melhorar
a vida e o futuro de todos os povos. Destacamos a luta das mulheres indígenas
que mesmo numa situação desfavorável de insegurança, medo, ameaças e violências
nunca desistiram de lutar por território, saúde, educação e pelo Bem Viver de
suas famílias, comunidades e povos. Lembramos a história, a resistência, a
memória e a luta de Maria Almeida Apinagé, Maria Barbosa Apinagé, e tantas
outras mulheres e homens lutadoras (os).
Em nossa Assembleia analisamos a atual
conjuntura de insegurança, hostilidades, ódio e ameaças concretas contra nossos
direitos constitucionais nos próximos quatro anos do governo de Jair Messias
Bolsonaro. Entendemos que nossas articulações, mobilizações e lutas deverão
continuar para questionar, enfrentar e resistir contra essas hostilidades e
propostas ameaçadoras do próximo governo, que tem se manifestado claramente
contra os interesses e direitos indígenas.
Não concordamos com as falas preconceituosas e abusivas do presidente eleito contra nossas famílias, comunidades e etnias. Sentimos nos ofendidos e agredidos, sendo tratados e comparados com “animais em zoológicos” conforme declarou recentemente. Em outra oportunidade o presidente eleito teria declarado que em seu governo, “índio não terá mais um centímetro de terra”. Esse comportamento agressivo, polêmico e ameaçador, em nosso entendimento são atitudes preconceituosas e inadequadas e sinalizam como seremos tratados no mandato de Bolsonaro.
Não concordamos com as falas preconceituosas e abusivas do presidente eleito contra nossas famílias, comunidades e etnias. Sentimos nos ofendidos e agredidos, sendo tratados e comparados com “animais em zoológicos” conforme declarou recentemente. Em outra oportunidade o presidente eleito teria declarado que em seu governo, “índio não terá mais um centímetro de terra”. Esse comportamento agressivo, polêmico e ameaçador, em nosso entendimento são atitudes preconceituosas e inadequadas e sinalizam como seremos tratados no mandato de Bolsonaro.
Repudiamos com veemência as seguidas declarações
de intolerância, ódio e desprezo de Jair Bolsonaro contra povos indígenas-
amplamente divulgadas nos veículos da imprensa brasileira. Essas declarações são "munição" para que setores vinculados aos ruralistas (agronegócio), mineração e madeireiros, se sinto mais amparados e motivados para continuarem
a criminalizar, perseguir, prender e assassinar lideranças indígenas no País. Isso
é extremamente grave e pode ser entendido como “incitação ao ódio" e uma “ordem”
pra matar e exterminar índios impunemente”, tendo como motivação as disputas e
conflitos pela terra e os bens da natureza.
Denunciamos o sucateamento
intencional e programático da FUNAI, deixando as terras indígenas desprotegidas
e ameaçadas e invadidas por fazendeiros, madeireiros, mineradoras, arrendatários e outros. É
inaceitável que os indígenas brasileiros, que nos últimos 518 vem sendo
vitimados pelas grilagens, invasões e esbulhos de suas terras tradicionais,
não tenha seus direitos territoriais respeitados, protegidos e garantidos pelo
Estado Brasileiro. Denunciamos ainda que as autoridades brasileiras sejam
incapazes, ineficientes e desinteressadas para investigar, julgar e punir as
pessoas acusadas de ameaçar e assassinar indígenas no Brasil.
A charge ilustra a conjuntura dos indígenas no Brasil. (CIMI. 2016) |
Não concordamos com as propostas de
legalização de arrendamentos e uso de nossas terras por invasores e ruralistas,
além da ilegalidade e crime ambiental, o arrendamento de terras indígenas
proposto por Bolsonaro poderá causar e agravar mais divisões e conflitos
internos nas aldeias. A proposta ainda afronta e agride diretamente a Constituição
Federal em seu Art. 231, que afirma: “as terras indígenas são inalienáveis e indisponíveis
e os direitos dos indígenas sobre elas são imprescritíveis”, e portanto não
podem ser vendidas, arrendadas ou exploradas por terceiros.
Neste ano em que a Declaração Universal dos Direitos Humanos
completa 70 anos, continuaremos insistindo na luta pela garantia e manutenção
de direitos indígenas consagrados na CF de 88, especialmente nossos
territórios, saúde, educação, meio ambiente e produção agroecológica e
saudáveis. Não podemos concordar com retrocessos e retirada de direitos.
Lembramos que logo após a
proclamação pelo TSE dos resultados das urnas no Segundo Turno das Eleições, o
presidente eleito Jair Bolsonaro discursou com um exemplar da Bíblia Sagrada na
mão e a Constituição Federal na outra, prometendo o cumprir a CF de 88 e seguir
os “princípios cristãos”. Nesse sentido exigimos que o presidente no seu
mandato cumpra a Constituição Federal conforme prometeu.
É inaceitável o jogo de empurra da
equipe de transição do governo eleito com a Fundação Nacional do Índio-FUNAI, sucateada,
abandonada e perseguida nos últimos anos pela bancada ruralista, analisamos que
ainda é incerta e imprevisível a situação do órgão indigenista a partir de
janeiro. Exigimos que a FUNAI continue vinculada ao Ministério da Justiça. E
não aceitamos que suas atribuições e funções sejam assumidas pelo Ministério da
Agricultura, que historicamente tem sido contrária as demarcações de terras
indígenas.
É extremamente grave a intenção de
Jair Bolsonaro de dificultar e impedir a atuação das ONGs indigenistas e
ambientalistas no país. O proposito de reprimir o ativismo ambientalista e
indigenista, significa uma atitude de violência, que fere nossa autonomia,
dignidade e direito de organização. Entendemos que estamos sendo assediadas e
chantageadas por um governo de extrema direita que despreza valores humanos, agride
nossa consciência e pensamento, nega a pluralidade de ideias, viola nosso
direito de livre expressão e manifestação e ameaça a democracia.
Questionamos as deficiências e desprezo do Programa “Mais Médicos”, provocado pela retirada dos Médicos cubanos do Programa, fato que gerou um déficit e insuficiência no atendimento à saúde indígena nas aldeias. Cobramos com urgência o preenchimento das mais de oito mil vagas deixadas pelos Médicos cubanos.
Questionamos as deficiências e desprezo do Programa “Mais Médicos”, provocado pela retirada dos Médicos cubanos do Programa, fato que gerou um déficit e insuficiência no atendimento à saúde indígena nas aldeias. Cobramos com urgência o preenchimento das mais de oito mil vagas deixadas pelos Médicos cubanos.
Participação das mulheres indígenas na Assembleia dos Povos Indígenas de Tocantins. (foto: Pempxà. Dez. 2018) |
Debatemos e rejeitamos ainda as
mudanças propostas para Educação no governo Bolsonaro, por exemplo; o plano de
privatizações do sistema de Educação e as cobranças de mensalidades nas
Universidades Públicas. É inaceitável ainda os cortes das bolsas permanências e
auxílio moradia dos alunos indígenas e quilombolas.
Da mesma forma questionamos as
mudanças implementadas a partir da reforma da Previdência Social, que alegando
déficit orçamentário fala em mudanças no regime de aposentadorias e outros
benefícios previdenciários. Na verdade essas medidas propõe a retirada de
direitos sociais dos idosos, mulheres, crianças e dos trabalhadores em geral. É
inaceitável que direitos fundamentais da sociedade estejam sendo suprimidos aumentando
a idade de homens mulheres para se aposentar; tudo para beneficiar e atender as
demandas das empresas e do mercado.
Exigimos que o governo brasileiro
observe, respeite e cumpra a Constituição Federal, bem como a legislação e
tratados internacionais que o Brasil assinou e é signatário. São inadmissíveis as
propostas de integração dos diversos povos indígenas à sociedade nacional. Cabe
o respeito à autonomia, à liberdade e aos direitos dos povos indígenas de
decidirem sobre suas vidas e destino.
A questão das relações políticas,
sociais e culturais dos indígenas com a sociedade nacional é um processo que
não pode acontecer mediante ameaças, violências e pressões. Exigimos que Estado
respeite nossas culturas, modos de vida e tradições. O protocolo de consulta,
livre e informada garantidos na Convenção 169 da OIT devem ser respeitadas e
efetivadas por governos e empresas em todos os processos e empreendimentos que ameaçam
e afetam nossos territórios e comunidades.
Dessa forma não concordamos com
implantação de grandes projetos de monoculturas afetam nossos territórios e
aldeias. Ressaltamos que existem centenas de empreendimentos de eucaliptos,
cana, soja, milho e outros grãos planejados e sendo implementados no entorno e dentro dos territórios indígenas do estado do Tocantins pelo Programa Matopiba. Ainda existem rodovias, hidrelétricas e
hidrovias nos rios Tocantins e Araguaia planejados pela iniciativa privada com
apoio dos governos.
Finalmente informamos que
continuaremos mobilizados e unidos em defesa de nossos territórios. Juntos com
aliados nacionais e internacionais continuaremos cobrando do governo brasileiro
o respeito e o cumprimento das leis e a efetivação de nossos direitos
constitucionais.
Aldeia Brejinho Terra Indígena
Apinajé, 10 de dezembro de 2018.
Assinam esse documento os povos:
Apinajé
Krahô
Xerente
Awá-Canoeiro
Krahô-Kanela
Javaé
Krahô Takaywra
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