25 de mar. de 2022

EDUCAÇÃO

CACIQUES E LIDERANÇAS APINAJÉ PROTESTARAM ENTRE OS DIAS 19 A 24 DE FEVEREIRO CONTRA A MUNICIPALIZAÇÃO DO TRANSPORTE ESCOLAR INDÍGENA E A FALTA DE MATERIAL ESCOLAR

No período de 19 a 24 de fevereiro de 2022 estivemos mobilizados na terra indígena Apinajé, no município de Tocantinópolis–TO para debater os problemas da Educação Escolar Indígena, especialmente a proposta de municipalização do transporte e a falta de material escolar, situação possivelmente provocada por ordem do Diretor da Diretoria Regional de Educação de Tocantinópolis-DRE, Sr Dorismar Carvalho de Sousa, que teria decidido por conta própria essa municipalização sem consultar nossos caciques e lideranças.  A decisão do Diretor da DRE de suspender a compra de Material Escolar para os estudantes indígenas Apinajé da 1ª, 2º e 3ª fase foi outra causa de nossos protestos. Na ocasião manifestamos nossa insatisfação com essas medidas e mudanças repentinas que causaram surpresa e provocaram revoltas nos professores, pais e estudantes que precisam acessar e frequentar as Unidades Escolares Escola Estadual Indígena Mãtyk na aldeia São José e Tekator na aldeia Mariazinha.

Durante as manifestações avaliamos que as mudanças do Transporte Escolar do Estado (SEDUC) para a gestão do município de Tocantinópolis, prejudicava todos os Estudantes especialmente os que moram nas aldeias Barra do Dia, Guerreiro, Pecôb, Mata Grande, Cristo Rei, Encontro da Natureza, Aldeia Nova e Botica localizadas no município de Maurilandia que  imediatamente ficaram sem o acesso ao Transporte Escolar para frequentar a Escola Estadual Indígena Tekator, localizada na aldeia Mariazinha no município de Tocantinópolis. Com essa municipalização do Transporte Escolar o gestor do município de Tocantinópolis se recusava transportar alunos de outros municípios.

Lembramos que que todos os Estudantes Indígenas do território Apinajé - com exclusão de alguns Estudantes que estudam nas cidades de Maurilandia e São Bento do Tocantins, os demais sempre foram atendidos pelo serviço do Transporte Escolar oferecido pelo Estado (SEDUC) nos horários matutino, vespertino e noturno que utilizam o transporte para frequentar a Escola Estadual Indígena Mãtyk na aldeia São José e Tekator na aldeia Mariazinha. Mas, existem aldeias que ainda não são atendidas pelo Transportes Escolar, infelizmente ainda temos situações de Estudantes que andam a pé para chegar até a Unidade Escolar ou pra acessar estrada vicinal transitável e esperar o ônibus. O fato é que por falta de manutenção das estradas vicinais o Transporte Escolar não pode acessar todas aldeias na região da São José e Mariazinha.

Repudiamos a atitude dos gestor (es) públicos por terem decidido de forma unilateral e por conta própria sem ouvir nossas comunidades e organizações. Neste caso os gestores da SEDUC e da Prefeitura de Tocantinópolis erraram em não ter considerado e ouvido nosso povo na condição de principal interessado e usuário desse serviço público. Dessa forma entendemos que tanto a Prefeitura de Tocantinópolis e o Estado (SEDUC) violaram nosso Direito e descumpriram os Termos da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho-OIT, que nos garante a Consulta Livre Prévia e Informada antes da efetivação de qualquer mudança nos serviços e nas políticas públicas que nos interessam diretamente.

Em cumprimento as negociações entre lideranças e gestores ocorrida no dia 24/02/2022 a gestão do Transporte Escolar nas aldeias saiu da Prefeitura de Tocantinópolis e voltou para o Estado (SEDUC), e a compra de Material Escolar foi normalizada. E conforme havia sido acordado com o pessoal da DRE Tocantinópolis, logo que essa situação fosse resolvida as aulas seriam retomadas, assim foi feito, na região da aldeia Mariazinha as aulas já estão normalizadas, mas região da aldeia São José a situação não foi totalmente regularizada, sendo que as crianças das aldeias Serrinha, Boi Morto e Bacaba ainda estão impedidas de frequentar as aulas, e mais uma vez por falta de estradas que é outro problema grave que enfrentamos. A prefeitura de Tocantinópolis e FUNAI teriam prometido resolver em caráter emergencial ainda na segunda-feira 21/03, mas até o momento essas dificuldades continuam.

Nesse período de chuvas as estradas vicinais de acesso às aldeias estão sem manutenção e intransitáveis, dificultando a vida das comunidades e dos indígenas; especialmente os mais de 500 Estudantes que vivem e estudam na Escola Estadual Indígena Mãtyk na aldeia São José. Esse é um serviço de responsabilidade e dever dos municípios de Tocantinópolis, Maurilandia, São Bento do Tocantins e Cachoeirinha, da Agência Estadual de Obras - AGETO e FUNAI, mas,  as parcerias e acordos firmado entre esses órgãos públicos que poderiam ajudar resolver esses problemas não estão sendo efetivamente cumpridos. Assim essa situação difícil das estradas se repetem todos os anos e muitas crianças enfrentam dificuldades, e as vezes ficam semanas sem poder ir à Escola, e impedidos de acompanhar as aulas por causa das péssimas condições dessas vias. Diante dessa situação, o que temos observado é total abandono e desprezo dos gestores de alguns municípios e do estado do Tocantins, com as aldeias Apinajé.  

Durante as mobilizações ocorridas no mês passado as lideranças reclamaram ainda do abandono e da falta de estruturas nas Escolas indígenas Apinajé sob gestão da Diretoria Regional de Educação de Tocantinópolis-DRE. A situação de precariedade da Escola da aldeia Recanto que sofre sucateamento generalizado, com paredes caindo aos pedaços, falta de cadeiras e muitas goteiras no teto é vergonhosa, constrangedora e representa exemplo de desinteresse e decadência da gestão pública.  As lideranças também cobraram esclarecimentos, informações e prestações de contas dos recursos destinados as Escolas Indígenas Apinajé sob gestão da DRE de Tocantinópolis.  

Por fim, é importante lembrar da situação das famílias que moram na aldeia Cocalinho no município de Cachoeirinha, que há quatro (4) anos estão reclamando e solicitando a abertura de uma Turma (extensão) para atender dezoito (18) alunos que também estão sem aulas. Por falta de funcionamento dessa Escola, algumas crianças desta comunidade já com 10 anos de idade nunca frequentaram 1 dia de aula sequer. Mesmo com reiterados pedidos da comunidade, os gestores da Diretoria Regional de Educação de Tocantinópolis-DRE vivem empurrando e prometendo resolver essa situação, mas até o fechamento e publicação dessa Matéria nada havia sido feito. Mas, a comunidade segue esperando e cobrando solução dos gestores da DRE-Tocantinópolis.

 

Terra Indígena Apinajé, 25 de março de 2022

 

Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ

10 de mar. de 2022

ONU: Direitos Indígenas

Indígenas retornam à ONU para denunciar o aumento das violações de seus direitos originários e a omissão do Estado brasileiro

Ataques contra casas de reza, invasões a terras indígenas e falta de proteção às comunidades serão levados ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, nesta quinta e sexta-feira, 10 e 11 de março

ATL 2018. Foto: Guilherme Cavalli/Cimi

ATL 2018. Foto: Guilherme Cavalli/Cimi

POR ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO CIMI

Lideranças indígenas tornam a denunciar ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), nos dias 10 e 11 de março, o aumento da violência contra os povos originários no Brasil, que vem pondo em risco suas vidas e territórios. A política anti-indígena adotada pelo governo federal também será abordada pelas lideranças. A 49ª sessão do Conselho de Direitos Humanos (CDH 49) da ONU iniciou no dia 28 de fevereiro e se estende até 1º de abril deste ano, com o objetivo de revisar os informes sobre diversas questões de direitos humanos.

Nestes dois dias, estão previstas três incidências que serão realizadas pelas lideranças: Tatiane Kaiowá, representante dos povos Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul; Adriano Karipuna, do povo Karipuna em Rondônia; e Jair Maraguá, tuxaua geral do povo Maraguá, no Amazonas. As intervenções se darão no espaço destinado ao “Diálogos Interativos”, com a presença de especialistas e os respectivos relatores especiais do Conselho para o assunto.

A primeira contribuição está prevista para a manhã do dia 10 de março, quarta-feira. Com a presença do relator especial sobre liberdade religiosa ou crença, Tatiane Kaiowá irá abordar a constância dos ataques contra as casas de reza e rituais tradicionais enfrentados por seu povo e a falta de demarcação de seus territórios como causa. Segundo a Aty Guasu – Grande Assembleia dos povos Kaiowá e Guarani, pelo menos sete casas de reza Guarani e Kaiowá foram criminosamente incendiadas em 2021.

Na tarde do mesmo dia, 10/03, com a presença do relator especial sobre as obrigações de direitos humanos relacionadas ao gozo de um ambiente seguro, limpo e saudável e ambiente sustentável, Adriano Karipuna retorna à ONU para denunciar invasões e grilagem na Terra Indígena (TI) Karipuna, em Rondônia.

Em 2021, os Karipuna processaram a União, a Funai e o estado de Rondônia por invasões e pela devastação da terra indígena. No mesmo ano, houve um aumento de 44% no desmatamento registrado no território em relação ao ano anterior, colocando em risco a sobrevivência do povo e dos indígenas que vivem em isolamento voluntário naquela região.

Na sexta-feira, 11 de março, com a presença do relator especial sobre a situação dos defensores dos direitos humanos, a intervenção será de Jair Maraguá, liderança do povo Maraguá ameaçada após o massacre ocorrido na região do rio Abacaxis, no Amazonas, que vitimou quatro ribeirinhos e dois indígenas Munduruku. Indígenas e ribeirinhos seguem denunciando a negligência do Estado brasileiro nas investigações e a falta de proteção às comunidades afetadas.

Além destas contribuições, na manhã desta terça-feira (8), Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho (RO) e presidente do Cimi, apresentou o retrato da atual situação dos povos originários no Brasil e denunciou a política anti-indígena do governo Bolsonaro. Seu pronunciamento expôs as contradições do discurso da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, realizado no Segmento de Alto Nível, que abriu esta edição do Conselho no dia 28 de fevereiro.

Também estão previstas outras três intervenções do Cimi e do Conselho Indígena de Roraima (CIR), que deverão ser realizadas nas próximas semanas, ainda durante a 49º sessão do Conselho de Direitos Humanos.

A  agenda completa e a íntegra das contribuições indígenas e indigenistas estão sendo disponibilizadas no site do Cimi.