23 de mar. de 2024

NOTA PÚBLICA

NOTA PÚBLICA DE CACIQUES E LIDERANÇAS REUNIDOS NA ALDEIA PRATA NOS DIAS 21 E 22/03/2024

Nos dias 21 e 22 de março de 2024, nós caciques e lideranças estivemos reunidos na aldeia Prata, no território Apinajé, município de Tocantinópolis, estado do Tocantins tratando de assuntos internos e das políticas públicas de educação, estradas vicinais e outros assuntos de interesse desta comunidade indígena. Informamos que esse é um Movimento pacífico para reivindicações de melhorias dos serviços públicos e teve expressiva participação de jovens, mulheres, anciãos, Professores, Estudantes somando mais 150 participantes, entre caciques, lideranças e representantes vindos de 60 aldeias. Na ocasião tratamos da situação de abandono das estradas vicinais que está dificultando e inviabilizando o Transporte Escolar na maioria das aldeias. E ainda denunciamos a falta de Material Didático nas Unidades Escolares Apinajé, e lamentamos o fato de nossos filhos estarem sendo prejudicados por essa demora na entrega de Material Escolar. O Senhor Dorismar Carvalho de Sousa Supervisor Regional de Educação em Tocantinópolis teria sido convidado; e estava sendo esperado na Reunião, mas o servidor não compareceu, demonstrando claramente desinteresse e desprezo pelas reinvindicações e demandas desta comunidade indígena. Ainda estamos pedindo esclarecimentos sobre a falta de prestações de contas dos recursos repassados para as Associações das Escolas Tekator na aldeia Mariazinha e Mãtyk na aldeia São José, pois verificamos dificuldades dos gestores não índios de fazer as devidas prestações de contas dos valores repassados pelo governo do estado. Ressaltamos que as referidas Associações estão sob responsabilidade e gestão dos não-índios e não somos informados sobre valores e aplicações dos recursos repassados. Outro motivo desse Movimento que resultou na paralisação das aulas, é a situação precárias das estradas vicinais que servem às mais de 60 aldeias existentes no Território Apinajé. Trata se de problema recorrente que nunca foi resolvido, mesmo com intervenção da FUNAI e do MPF-TO, as Prefeituras de Tocantinópolis, Maurilandia São Bento do Tocantins e Cachoeirinha, não conseguem se entender e se planejar para manter essas estradas em condições razoáveis de trafego de veículos, incluindo os ônibus do Transporte Escolar. Um Laudo Pericial do MPF diz que serão necessários mais de 14 milhões de reais para recuperação da malha viária que serve às mais de 60 aldeias reconhecidas nesse território indígena. E no momento tramita na 1ª Vara Federal Cível e Criminal da subseção Judiciária de Araguaína -TO, Ação Civil ajuizada pelo MPF, requerendo que as Prefeituras adotem medidas e elaborem um plano permanente de recuperação e manutenção dessas vias. Enquanto a Justiça não decide o problema continua. Na Reunião da aldeia Prata, observamos que os serviços realizados pelas Prefeituras nas estradas é só um paliativo (ou faz de conta) que não resolve o problema, pois as maquinas fazem a retirada da areia e terraplanagem nos trechos críticos, mas não jogam cascalhos nesses locais e nos buracos feitos pelas águas no período de chuvas intensas; apenas barro é utilizado. Diante dessas dificuldades sugerimos que os Prefeitos de Tocantinópolis, Maurilandia, São Bento do Tocantins e Cachoeirinha devam se unir, em parcerias para planejamento e execução desses serviços juntos. A elaboração conjunta de um plano de recuperação e manutenção dessas estradas pelos municípios é necessário. E cabe ao governo do estado através da Agencia Tocantinense de Transportes e Obras-AGETO também participar e ajudar com maquinas e combustíveis. No decorrer de décadas percebemos sempre a falta de interesse e vontade desses gestores do estado e dos municípios para assumir (rem) essa política pública, e assim nossas propostas e pedidos sempre esbarram na “falta de dinheiro”, na “falta de maquinas”, combustíveis e assim por diante. Talvez uma Emenda Parlamentar resolveria parte do problema, mas, aonde andam os Deputados estaduais ou federais que afirmam ser(em) “representantes dos Povos do Bico” e, que a cada dois anos costumam entrar nas aldeias pedindo votos? Estamos cansados de ser divididos, manipulados, usados e enganados por interesses políticos. Constatamos que nossos votos só servem para dar empregos e privilégios à esses “políticos profissionais”, e nada mais. No final da tarde de ontem sexta-feira, 22/03/2024 mesmo com a notícia que o Material Escolar já teria sido entregue pela Supervisão Regional de Educação de Tocantinópolis, decidimos por manter e continuar o Movimento, na segunda-feira em Tocantinópolis. Neste caso se o material escolar ainda não tiver sido entregue, o Movimento de paralisação das aulas deverá continuar até que isso seja resolvido. Diante do do exposto solicitamos;

1)      Realização de Audiências no MPF-TO, com participação de Prefeitos, AGETO, FUNAI CTL e CR de Palmas, NATURATINS e organizações Apinajé para tratar das estradas vicinais e ICMS Ecológico;

2)      A entrega de Material Escolar nas Escolas pela Supervisão Regional de Educação de Tocantinópolis;

3)      O afastamento da servidora Maria Arlete Rodrigues da Supervisão Regional de Educação de Tocantinópolis;

4)      Exigimos as prestações de contas dos valores repassados pelo governo para Associações das Escolas Tekator (aldeia Mariazinha) e Matyk (aldeia São José).

 

 

Aldeia Prata, Terra Apinajé, março de 2024

Associação União das Aldeias Apinajé-Pempxà

18 de mar. de 2024

EDUCAÇÃO

MANIFESTAÇÃO DO POVO APINAJÉ, SOBRE AS CONDIÇÕES DAS ESTRADAS VICINAIS E A FALTA DE MATERIAL ESCOLAR NAS ESCOLAS INDÍGENAS

Escola Estadual Indígena Mãtyk na aldeia São José. Foto: Arquivo Pempxà. Agosto de 2021) 

Nós lideranças e caciques Apinajé da região das aldeias São José e Mariazinha estivemos reunidos no dia 13 de março do corrente ano tratando de assuntos internos e sobre questões relacionadas as políticas públicas especialmente a situação das estradas vicinais e falta de material escolar nas Escolas. Expressamos nossa preocupação com as condições das estradas vicinais de acesso às aldeias Apinajé, indispensáveis para viabilizar o Transporte Escolar que serve todas as Unidades Escolares existentes nesta terra indígena. Verificamos que essa situação difícil das estradas vem se repetindo todos os anos, logo no início do período letivo causando prejuízos e transtornos para Estudantes que ficam impedidos de frequentar as aulas, enquanto os gestores dos municípios ficam prometendo melhorar as condições das estradas vicinais nossas crianças estão impedidos de ir à Escola. Lembrando que no período de dezembro a fevereiro os Prefeitos tiveram tempo para recuperar as estradas, mas nada fizeram; evidenciando total ausência de planejamento e falta de vontade política.


E esse problema se arrasta há décadas, entre 2015 e 2021 houve uma tentativa (fracassada) de Acordo entre as Prefeituras e a comunidade indígena mediado pelo MPF-TO e FUNAI, mas as conversas não avançaram exatamente pelo desinteresse e negação dos Prefeitos com essa nossa reivindicação.

Reunião de caciques Apinajé e Prefeitos na aldeia Prata. (foto: Arquivo Pempxà. Maio de 2021) 

Atualmente existe um Processo Judicial ajuizado pelo MPF-TO tramitando nos Tribunais que poderá condenar as Prefeituras  de Tocantinópolis, Maurilandia, São Bento do Tocantins e Cachoeirinha a elaboração de um plano efetivo de recuperação e conservação dessas vicinais, mais enquanto a justiça não se manifesta e decide, essas estradas continuam esburacadas e abandonadas prejudicando os mais de 300 Estudantes que dependem do Transporte Escolar para frequentar aulas na Escola Estadual Indígena Mãtyk na aldeia São José, na Escola Estadual Indígena Tekator, localizada na aldeia Mariazinha no município de Tocantinópolis e na Escola Estadual Indígena Katam na aldeia Palmeiras no município de Maurilandia.


É fato que no decorrer de décadas todos os gestores que passaram pelas citadas Prefeituras nunca demonstraram nenhum interesse e nem responsabilidades para assumir (em) a recuperação e conservação dessas estradas internas do território Apinajé, dificultando assim a atuação dos próprios órgãos públicos da esfera municipal, estadual e federal, haja vistas que essas estradas são utilizadas com frequência por viaturas das Prefeituras, da SEDUC, do RURALTINS, FUNAI, SESAI, IBAMA e nossos próprios veículos, pois precisamos nos deslocar diariamente entre as aldeias, e acessar povoados e cidades do entorno para visitar familiares, trabalhar, vender nossos produtos, fazer compras e resolver assuntos pessoais.


Ainda, sobre a questão das estradas vicinais, na última quinta-feira, dia 14/03/2024 estivemos reunidos com o Senhor Prefeito de Tocantinópolis, Paulo Gomes, e na ocasião o chefe do Poder Executivo do município de Tocantinópolis informou que estava com as maquinas realizando serviços nas estradas na região da aldeia São José, e que concluída essa parte, já iniciaria os trabalhos nas estradas na região da aldeia Mariazinha. Assim nos comprometemos aguardar até que sejam concluídas as estradas na região da São José e seja iniciado os trabalhos nas estradas na parte da aldeia Mariazinha.

Trecho de estrada vicinal de aldeia Palmeiras, acesso à Tocantinópolis. (foto: Arquivo Pempxà. Junho de 2019)

Outra situação que está acontecendo e atrapalhando o andamento das atividades escolares é a falta de material escolar, problema verificado em todas as Escolas. As aulas foram iniciadas em fevereiro, mesmo assim após mais de 40 dias estamos aqui registrando queixas dos país e mães de Estudantes dessa falta de material escolar, problema que se repete novamente esse ano, já que no ano de 2022 também verificamos o mesma demora para entregar cadernos, lápis, réguas, livros e outros materiais didáticos nas referidas Unidades Escolares.


Diante disso, informamos que se esse problema não for resolvido, a partir de segunda-feira dia 18/03/2024, estaremos paralisando as aulas em todas as Escolas estaduais e nas creches do município em protestos por motivo da falta de material escolar, e o abandono e falta de recuperação das estradas vicinais de acesso à nossas aldeias. Informamos ainda que as aulas ficarão paralisadas por tempo indeterminado até que sejam resolvidos essas demandas da comunidade, e que durante a paralisação os Professores e demais servidores não-índios não poderão acessar e nem permanecer nas respectivas Unidades Escolares aonde atuam.


Em presença desses fatos estamos encaminhando esse Manifesto para o conhecimento do MPF-TO, SEDUC, AGETO e FUNAI, solicitando que adotem medidas cabíveis para resolver esses problemas. Diante do exposto requeremos dos órgãos públicos competentes e responsáveis:


a)   A urgente recuperação das estradas vicinais de acesso às aldeias localizadas nos 4 municípios;

b)  Aquisição e entrega de material didático nas Escolas citadas;

c) Reestabelecimento do diálogo, Acordo e parcerias entre as Prefeituras, AGETO, FUNAI, MPF-TO para conservação das estradas vicinais na T.I. Apinajé;

 

 

 Aldeia São José, T.I. Apinajé, março de 2024


Associação União das aldeia Apinajé-Pempxà